25 fevereiro 2011

O pessimismo é mais fácil.

por José Tolentino Mendonça


"A tradição ocidental não deixa margens para dúvidas na ligação que faz entre sabedoria e pessimismo. Bastaria um daqueles inesquecíveis retratos de Rembrandt para nos dizer tudo: sábio é aquele que se senta na penumbra, olhando com ponderada distância para as ilusões de transparência que a luz e a existência acendem. O que não é propriamente algo que tenha mudado. Veja-se como mais facilmente o taciturno passa por sábio do que o homem alegre. E um espírito torturado e reticente arranca maior alcance e aplauso do que todos os que se esforçam por manter ativa a esperança.

Há, de facto, um erro de avaliação que leva a considerar a jovialidade do otimista como característica espontânea de caráter, que nada deve à decisão, à maturação da vontade ou à tenacidade. Aliás, o mais comum é arrumar o otimismo na ingénua estação dos verdes anos (mesmo se ele persiste fora de época) e reservar o fruto comprovado da argúcia apenas para o seu oposto. «Juventude ociosa/ por tudo iludida/ por delicadeza/ perdi minha vida» - é aviso de Rimbaud, garantem-nos. No pessimismo, pelo contrário, nada se perde, pois somos levados a adivinhar aí um coerente processo de consciência, uma abrangência de análise sobre todas as variantes, um metabolismo sagaz da pequena e da grande história.

Contudo, o que realmente experimentamos é o avesso desta experiência, já que o pessimismo é, em muitas circunstâncias, a resposta mais fácil às solicitações do tempo. Os que só vislumbram doses colossais de ciência e de humanidade no pessimismo, esquecem quanto ele pode ser conformista, parcial ou insensível. Certamente que o pessimismo desempenha uma função purgatória face às derivas, mas um mundo gerido por pessimistas talvez não nos levasse sequer a levantar âncora do porto. Importa sublinhar que otimismo não é fatalmente leviano ou infundado (e não deveria sê-lo nunca). Os otimistas autênticos não são os que desconhecem as razões que levam outros ao seu inverso, mas aqueles que dominando objetivamente o quadro do real mesmo assim o integram num projeto maior e paciente, onde os obstáculos podem constituir oportunidades."

23 fevereiro 2011

Eurolusocídio.

por José Ribeiro e Castro, deputado do CDS-PP
no Público de 2011-02-22

"O Parlamento Europeu não nos defendeu e o Governo entregou-nos, traiçoeiramente, no Conselho.

Insisto há anos para conhecermos o valor económico da língua portuguesa. Vivemos tempos materialistas - vale pouco o que não pesa em percentagens do PIB. Às tantas, o Governo pareceu agarrá-lo e desencadeou uns estudos. É o caminho certo e novas iniciativas vão-no levando mais fundo.

Agora, a contracorrente, o Governo acaba de dar uma dentada valente precisamente no valor económico da nossa língua: consumou-se a primeira etapa de um "lusocídio" - a exclusão do Português do regime europeu de patentes. O Parlamento Europeu não nos defendeu e o Governo entregou-nos, traiçoeiramente, no Conselho, pela calada da manhã.

O debate parlamentar foi elucidativo. O alemão Lehne, relator, mostrou ao que vêm os entusiastas do regime trilingue de Munique (inglês, francês e alemão): "Se algum Estado - ditou ele - se acha tão importante para querer a tradução das patentes na língua nacional, pague-a!"

Do alto da sua arrogância, nem se apercebeu que o mesmo pode dizer-se para a Alemanha, numa frase que é uma barbaridade para a construção europeia, seus princípios e valores. Mostra a nova ideologia trilingue, que pode vir a ter vastíssimas consequências. Mas nem isso impressiona o Governo português na sua deserção, nem os eurodeputados, que se esquecem de defender o interesse nacional.

Este atentado a valores básicos da União Europeia vem convenientemente embrulhado em mistificações quanto aos "custos" a poupar, no meio de chavões sobre "competitividade", para impressionar quem quer ignorar a realidade. Em Estrasburgo, depois de loas à "competitividade europeia", a ministra Enikö Györi, pela presidência húngara, debitou o argumento conhecido: "Nos EUA, um inventor pode adquirir uma patente para todo o território pelo equivalente a 1850 euros. Na UE, o mesmo custa 20.000 euros para apenas 13 estados."

As coisas não são exactamente assim, mas deixemos os pormenores. Os espanhóis provaram, sem serem contraditados, que todos os custos registais não pesam mais de um a dois por cento dos gastos em I&D no desenvolvimento de qualquer patente. E, desde logo, se a Europa quisesse regime igual ao americano, optaria pela solução do English only, que poderia ser aceitável e que a Comissão e o Conselho abandonaram, com a cumplicidade de Portugal. Por outro lado, falando de competitividade europeia, é evidente que ela já não é uniforme; e ficará pior, se o mercado interno não proteger devidamente a igualdade e a não discriminação. Ora, com o regime de Munique nas patentes, os alemães ficarão ainda mais competitivos e nós, portugueses, ainda menos.

Se pensasse à comunitária, a Comissão deveria assumir para a UE a totalidade dos custos de tradução, como acontece em todos os domínios, em decorrência do multilinguismo dos tratados.

Mas a mistificação é maior. O custo médio de traduzir uma patente para português é de 1000 a 1500 euros, o que não é exorbitante para o trabalho que remunera e a segurança jurídica que proporciona. Aliás, esses "custos" de tradução não são burocracia, mas economia - correspondem a um sector de actividade profissional, altamente qualificado, que irá para o desemprego. E esta actividade económica tem real utilidade cultural e social, proporcionando a rodagem e actualização permanente da nossa língua como língua de ciência e tecnologia. Para Portugal, este sector significa exportações de serviços de 30 a 40 milhões de euros anuais, correspondendo metade às traduções - com o regime de Munique, isto irá perder-se e, em parte, ser substituído por importação.

Mais sintomática é a distorção mental: alemães e Comissão clamam contra "custos" de tradução, mas nada se importam com os custos da burocracia. O Instituto Europeu de Patentes carrega seis mil funcionários e paga-se caro. Se uma tradução custa 1000 a 1500 euros, um pedido de patente europeia custa tipicamente, só em taxas administrativas, cerca de 4000 euros! Com mais alguns requintes: se o requerente se atrasa um dia, apanha uma penalidade de 50 por cento do valor em falta; além do pedido, tem de pagar mais cerca de 1000 euros das primeiras anuidades; há actos muito caros, como, por exemplo, uma busca ou um exame (1800 euros cada) ou uma opinião técnica (mais de 3500 euros). E todas estas taxas para "mangas de alpaca" são principescamente actualizadas: subiram cinco por cento em 2010, um ano em que a inflação na zona euro não chegou a um por cento.

A garantia do Português é que incomoda, desprezando o facto de os "custos" corresponderem a economia, emprego, produção cultural, exportação de serviços. Mas o peso da burocracia de Munique, esse, não tem importância nenhuma! Há melhor evidência da má fé subjacente ao debate? E dos interesses reais que se jogam e impõem?

O Governo desrespeitou a Constituição e a lei de acompanhamento parlamentar. E, a nível europeu, pode arguir-se violação do Tratado de Lisboa. Por isso, a nossa esperança só pode ficar em os espanhóis honrarem a promessa e não darem tréguas no Tribunal de Justiça. Em Bruxelas e Estrasburgo, poucos são os portugueses em que podemos confiar nestas lutas. O Governo traiu. O presidente da Comissão Europeia age, às vezes, como português não praticante. E, no Parlamento Europeu, o retrato foi este: a favor do interesse nacional, só CDS (Nuno Melo e Diogo Feio), PCP (Ilda Figueiredo e João Ferreira) e dois PSD (Carlos Coelho e Graça Carvalho); contra o interesse nacional, todo o PS e a maioria do PSD.

Foi assim o eurolusocídio."

22 fevereiro 2011

O novo dos Velhos!

Senhora do Monte 
Eu chego à fonte!

Finalmente Pisco à venda em Lisboa.

Pisco Capel Edição Moai 
Há momentos em que o Homem acerta. E o dia em que inventou o Pisco foi um deles.

Acorda no mais fundo,
A gente adormecida.
E quem lhe chama licor,
Nunca deu de beber à dor!

O néctar é dos deuses.
A folia bem profana!
Mais um trago, entretanto,
Da sul americana!

Que o frio jamais penetre!
Ou o sorriso se desmanche!
Que se brinde à emoção,
Da etílica avalanche!

É tudo, enfim possível,
Na vitória enebriante!
E lá se vai o nível,
Nos passos de gigante...

Ah! Folia saborosa,
De amizades engrandecidas...

E das fibras encharcadas,
De um coração virtuoso,
Cantam-se Odes amortecidas,
Em tão sublime gozo!

Depois quando é o fim,
E tudo já se cantou,
O Pisco ampara, suave e doce,
A quem à Vida se entregou...

E aí sabemos: acabou-se...
Nostalgia da próxima vez. 

07 fevereiro 2011

Espera por mim
(versão em português)

Espera por mim, que eu voltarei
Mas tens de esperar muito
Espera quando a chuva de Outono
tristeza trouxer,
espera quando a neve vier,
espera quando fizer calor,
espera quando os outros esperarem,
esquecidos do passado.
Espera, quando dos países distantes
cartas não chegarem,
espera, quando até se cansarem
aqueles que juntos esperam.

Espera por mim, que eu voltarei.
Não perdoes àqueles
que encontram palavras para dizer
que é tempo de esquecer.
E se crêem, filho e mãe,
que já não vivo,
se os meus amigos, cansados de esperar,
se sentam à lareira
e bebem vinho amargo
para me recordarem…
Espera. E com eles
não te apresses a beber.

Espera por mim, que eu voltarei
a despeito da morte.
Quem não me esperou,
que diga: “Teve sorte!”
Não compreendem os que não esperaram
como no meio do fogo
a tua espera
me salvou.
Como sobrevivi, saberemos
só tu e eu,
é porque me soubeste esperar
como ninguém mais.

Konstantine Simonov, 1943

Lido na missa do tio Zé Pedro Barreto, que não fui a tempo de conhecer melhor...
Jornalista que ia começar a tratar de ser escritor.

Saborosa Ironia...

"[...]
No escuro
Tu insistes que eu não presto
Eu juro
Que falta a parte melhor
Um beijo
Acaba com o teu protesto
Amanhã conto-te o resto
Boa noite meu amor"

Guerra das Rosas, Do Amor e dos dias

"[...]

Mas fico mais descansado
Sem nenhum mal entendido
Já que fui mal empregado
Não sou mal agradecido

E serve pra confessar
Quanto fiquei a dever-te
Por nunca poder pagar
O que ganhei em perder-te"

Último Recado, Do Amor e dos Dias

Camané no São Luiz, tá muita bom!

04 fevereiro 2011

01 fevereiro 2011

Influencers

600 universitários em missão católica pelo País.

por Rita Carvalho
in Diário de Notícias - 31.01.2011

Aproveitando a pausa nas aulas após os exames, cerca de 600 universitários vão dedicar a próxima semana a animar 13 zonas rurais. Visitar idosos, dinamizar grupos de jovens e crianças, e levar o espírito cristão porta a porta é a tarefa da Missão País.

Fundão, Redondo, Vidigueira ou Castro Verde são algumas das comunidades que acolherão 40 a 50 universitários, muitos já repetentes de outros anos. A nona edição do projecto estendeu-se a 13 faculdades e foi possível lançar mais cinco missões do que em 2010.

"Cada missão divide-se em comunidades de oito a dez pessoas, que, durante uma semana, visitam lares, hospitais, prisões, escolas e ATL. Jogamos, conversamos, cantamos e fazemos companhia aos que mais precisam", explicou ao DN Tomás Líbano Monteiro, missionário e coordenador da equipa nacional deste movimento católico que conta apenas com jovens.

"O mais gratificante é a alegria que sentem por nos receberem, sem que façamos nada de extraordinário", confessa o universitário de 20 anos, que regressa a Alcácer do Sal com a Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Nova de Lisboa.

Esta experiência de voluntariado é também uma missão espiritual, explica Tomás, por isso, uma componente essencial do projecto é a animação da fé. "Vamos de porta em porta visitar as pessoas. Se se proporcionar, falamos-lhes de Jesus e passamos um pouco de tempo com elas", explica. Uma missão para a qual é preciso coragem, principalmente depois de se "levar uma nega", reconhece, entre risos. "Mas se numa semana há uma pessoa que nos recebe e passa a tarde connosco, a experiência vale para a vida toda", garante, sublinhando que nas zonas rurais a abertura é maior.

Os jovens animam ainda a missa diária da paróquia local, preparam uma vigília para a comunidade e fazem momentos de partilha em grupo. "Costumamos falar em três missões: a externa, para a comunidade, a interna, na experiência criada no grupo, e a pessoal, de cada um com Deus. Quem tem fé sai renovado. Muitos que não têm, encontram-na. Já vimos muitas conversões", afirma.

Apesar do carácter católico, todos os universitários podem inscrever-se e as missões de cada faculdade são autónomas, embora tenham um traço comum. Um objectivo deste movimento criado em 2003 é também actuar para além desta semana. "Queremos trazer para dentro da faculdade a existência de Deus. E nalgumas já foram criados núcleos católicos."

porque ela gosta.



O Concerto.


Fala de muita coisa: de vidas interrompidas, de coragem, da vida que existe em cada nota musical. Fala de um regime mesquinho e criminoso. Fala da falência do comunismo e das máfias russas. De "mamãs" velhotas com olho para o big business. De gladiadoras em mini-saia a esvaziarem Uzis para cima de convidados de um casamento. Fala de alma em vez de técnica, de fura-vidas, de diversidade, de liberdade, da universalidade da música. De como a originalidade e o talento de cada um, reunidos em prol de um uníssono harmonioso faz uma orquestra, de como isso é o verdadeiro comunismo e de como o verdadeiro comunismo tem apenas a duração de um concerto.