06 novembro 2008

o triunfo da consciência

O filme, de 1957, é de Sidney Lumet e é uma adaptação de uma peça de Reginald Rose, com o mesmo nome.

Não é uma adaptação qualquer. O filme é brilhante e totalmente sustentado na interpretação dos actores. Quase que esgotou toda a hipótese de fazer algo de novo em torno do tema: 12 jurados encarregados de decidir se um réu acusado de homicídio é culpado ou não.

O filme é um “achado” para a cadeira de comportamento organizacional. Quase tudo, ou talvez mesmo tudo, pode ser aproveitado. Para o tema abordado, “dinâmicas de grupo e equipas”, o filme é quase uma aula, um workshop em que a sala é um laboratório e os actores, ratos numa experiência.

Uma das primeiras cenas na sala, apresenta-nos a opinião dominante que soa a decisão tomada de forma rápida, porque o caso é evidente. É “óbvio” que o réu é culpado.

Resistindo à maioria que quer forçar uma decisão para resolver o assunto de forma rápida, Davies (Henry Fonda), vota inocente. Desenrola-se um processo de argumentação e contra-argumentação. Torna-se clara a existência de dúvida razoável. A maioria diluí-se. As mentes oscilam. A votação muda e um a um, os votos “culpado” mudam para “inocente”.

Muita coisa muda durante o filme. A autoridade formal, apenas de cariz organizativo, torna-se apenas o garante do protocolo das votações e surge uma liderança informal, com Davies à cabeça. Não porque este assim o quer mas porque os seus argumentos são fortes e, acima de tudo, porque acredita neles, não tem medo de os defender e não os impõe a ninguém. “The soft sell” como diz um dos actores, a dada altura. A coerência de raciocínio vende-se a si mesma e convence até o mais racional, por um lado, e o mais emocional, por outro, dos jurados.

Davies é o que melhor assume e compreende a responsabilidade que tem como jurado e por isso, os outros começam a vê-lo como líder. Sabendo que têm o seu apoio, ganham coragem para dar voz à sua consciência.

A honestidade e “boa fé”, acabam por triunfar sobre o preconceito, as “vistas curtas”, as lógicas simplistas, os rancores e orgulhos. Ruídos e sons que tentam abafar o silêncio interior, onde fala a consciência de cada um.

Não interessa se o réu é culpado ou não. Se a decisão é errada, é porque os advogados não foram capazes de apurar toda a verdade dos factos. Ou, simplesmente, não foi possível prová-lo para além da dúvida. É que, no contexto do filme, é o processo de decisão que interessa. A dúvida razoável é uma ressalva e defesa contra as decisões precipitadas só porque “parece” ou é “óbvio”. Quase nada é óbvio. Nem um bom cristão pode dizer que Deus é óbvio!

12 Angry Men é um filme, uma história sobre o triunfo da consciência. Não era possível condenar o réu a uma pena tão grave, apenas com base em provas circunstanciais. Havia muitas questão que suscitavam perguntas. Onze jurados, de consciência entorpecida quase se deixaram levar. Porque o décimo segundo teve coragem de seguir a consciência, todos acordaram. Todos se puseram a pensar. A voz da consciência triunfou…


Davies tem valor, não porque convenceu 11 pessoas a passar para o lado dele, mas porque conseguiu abrir os olhos dos outros para uma realidade que lhe era exterior. Ele só disse que não era possível condenar uma pessoa tendo as razões, tantas lacunas.

A honestidade a todos os níveis, a humildade e a integridade são fundamentais em qualquer organização. São valores que se devem cultivar dentro e fora das mesmas.

12 Angry Men é uma lição. Todos nós poderemos ter de um dia ser um Davies… ou, às vezes mais difícil, ser um dos jurados que, vendo o erro que cometeu, teve a coragem precisa para ser humilde e escolher a opção mais verdadeira.