21 dezembro 2016

09 dezembro 2016

Da Mariquinhas.


Miguel Tamen | Observador | 9.12.16

"Há mais de sessenta anos que dezenas de fadistas contumazes lamentam a desaparição da casa da Mariquinhas. Fizeram-no de muitos modos: recomendaram que se afogasse as dores da mudança em licor de ginja; imaginaram a proprietária numa situação de obesidade; e cantaram a desaparição das pessoas que tinham cantado a desaparição da casa. A alteração mais ínfima fez-lhes sempre lembrar o fim do mundo, e sugeriu-lhes frequentemente que a actividade humana é vã. As voltas do conhecido fado-Midas transformam tudo o que tocam em ocasião de choradeira.

À Mariquinhas original são porém alheios esses modos de lamento. Continua a ser a mais filosófica de todas as versões. A senhora do título é uma Carmen afadigada, “altiva como as rainhas.” É verdade que mora numa rua bizarra, mas apenas porque era preciso encontrar uma rima para “guitarra.” No demais tem uma casa “muito mal mobilada”, onde se podem ver jarras sobre colunas e “quadros de gosto magano.” Nada que não se possa encontrar ainda em residências de secretários de estado, de professores universitários, e de vendedores ambulantes. O primeiro e o maior fadista que cantou a casa da Mariquinhas construiu com as suas mãos uma réplica da referida casa, hoje no Museu do Fado; parece-se mais com uma casa de bonecas vitoriana do que com o símbolo de um mundo desaparecido.

Na casa da Mariquinhas original pratica-se a prostituição com uma certa alegria. A heroína “é doida pelas cantigas.” É-nos informado que “vive com muitas amigas” mas a frase não quer provavelmente dizer isso. A letra consiste numa série de décimas que à primeira vista parecem monótonas. Há versos que dão a impressão de lapsos poéticos deliberados. São todavia os grandes momentos do fado: o dístico “se canta o fado à guitarra / de comovida até chora” contém uma observação profunda sobre a origem dos nossos desgostos, e mesmo da arte. Quanto ao melhor dístico de todos, chega a confortar os ignorantes, porque sugere um erro literário que nem nós próprios cometeríamos: “Limpa as mobílias com óleo / De amêndoa doce e mesquinhas.” Os eruditos arrepiam-se; mas o fadista sublinha-o com acinte e com deleite. O seu instinto era melhor, e era seguro: nunca ninguém voltou a pronunciar ‘falo’, ‘sala’ ou ‘coluna’ como ele.

Para as grandes cenas de lamentação gostamos de imaginar cenários condizentes: os últimos dias de Pompeia, entrevistas de vida de artistas idosos, e, no fado, o quadro do Pintor Consagrado. Ora na casa da Mariquinhas não há cenários desses. O ambiente é de domesticidade calma. As receitas são guardadas no cofre-forte; as vizinhas não sabem o que se passa lá dentro; há problemas com a conta do gás; exerce-se uma profissão; e, claro está, a mobília é limpa com óleo de amêndoas doces. A casa da Mariquinhas representa o triunfo da sociedade civil."

02 dezembro 2016

Ainda sobre o (In)Fidel Castro.

O Colapso da Decência
por Nuno Melo | JN, 01.12.16

A aprovação do voto de pesar pela morte de Fidel Castro na Assembleia da República, como alguém que "consagrou a vida aos ideais do progresso social e da paz", significou o derradeiro triunfo do ditador, sobre os valores de referência do regime democrático.
A extrema-esquerda que contesta a legitimidade da eleição de Donald Trump nos EUA teve sucesso na homenagem a um déspota cubano que, como é sabido, nunca contou um voto nas urnas, ao mesmo tempo que, na caricatura do absurdo, se manifestou sentada no hemiciclo, sem respeito nem educação, contra a visita amiga do rei legítimo de Espanha, acusado de nunca ter sido submetido a sufrágio.
Agiu a propósito, com a mesma facilidade com que grita "liberdade" de cravo ao peito em cada dia 25 de Abril, mas concretizou o 11 de Março e lutou para que o 25 de Novembro nunca visse a luz do dia.
Conseguiu para o tirano do Caribe o que negou por ocasião da morte de José Hermano Saraiva, perigoso doutrinador do Estado Novo nos "Horizontes da memória" da RTP, António Champallimaud, pecaminoso porque criou riqueza e empregos em Portugal, Jaime Neves, que do lado de Ramalho Eanes teve o topete de ajudar a consolidar a democracia nacional, ou Shimon Peres que, azar nítido, foi prémio Nobel da Paz a par de Yasser Arafat, mas era judeu.
Tratou-se também da mesmíssima extrema-esquerda que rejeitou o voto de congratulação pela libertação de Ingrid Bettencourt, sequestrada pelas FARC na Colômbia, sob argumento de que os terroristas é que estavam do "lado certo" da história.
Infelizmente, no centro-direita, não faltou quem tenha ido na conversa. Esqueceram-se, talvez, de que os "ideais do progresso social e da paz" descobertos no finado Fidel Castro podem ser medidos pelo número de opositores mortos ou desaparecidos, de partidos políticos que nunca puderam nascer, de cubanos impedidos de circular, de se expressarem livremente ou de se manifestarem, dos "balseros" afogados em condições miseráveis na esperança de se livrarem do jugo e da absoluta proibição da liberdade de Imprensa.
Em cada fotografia tirada ao lado de Fidel Castro, por líderes ocidentais fascinados pela ideia da moldura a ornamentar os armários lá de casa, o ditador foi ganhando anos de vida política, contados pela longevidade de um regime que Che Guevara ilustrou como poucos na ONU, em 11 de dezembro de 1964: Fuzilamentos? Sim. Fuzilamos e continuaremos fuzilando.
A Assembleia da República não se limitou a homenagear um tirano. Silenciou a justiça devida a cada uma das vítimas.




14 outubro 2016

do Plano Inclinado | No First Things.



by Charles J. Chaput10 . 13 . 16




"Back in 2008, in the weeks leading up to the Obama-McCain presidential election, two young men visited me in Denver. They were from Catholics United, a group describing itself as committed to social justice issues. They voiced great concern at the manipulative skill of Catholic agents for the Republican Party. And they hoped my brother bishops and I would resist identifying the Church with single-issue and partisan (read: abortion) politics. 

It was an interesting experience. Both men were obvious flacks for the Obama campaign and the Democratic Party—creatures of a political machine, not men of the Church; less concerned with Catholic teaching than with its influence. And presumably (for them) bishops were dumb enough to be used as tools, or at least prevented from helping the other side. Yet these two young men not only equaled but surpassed their Republican cousins in the talents of servile partisan hustling. Thanks to their work, and activists like them, American Catholics helped to elect an administration that has been the most stubbornly unfriendly to religious believers, institutions, concerns and liberty in generations. 

I never saw either young man again. The cultural damage done by the current White House has—apparently—made courting America’s bishops unnecessary. 

But bad can always get worse. I’m thinking, of course, of the contemptuously anti-Catholic emails exchanged among members of the Clinton Democratic presidential campaign team and released this week by WikiLeaks. A sample: Sandy Newman, president of Voices for Progress, emailed John Podesta, now the head of Hillary Clinton’s campaign, to ask about whether “the bishops opposing contraceptive coverage” could be the tinder for a revolution. “There needs to be a Catholic Spring, in which Catholics themselves demand the end of a middle ages [sic] dictatorship,” Newman writes. 

Of course, Newman added, “this idea may just reveal my total lack of understanding of the Catholic church, the economic power it can bring to bear against nuns and priests who count on it for their maintenance.” Still, he wondered, how would one “plant the seeds of a revolution”? John Podesta replied that “We created Catholics in Alliance for the Common Good to organize for a moment like this . . . likewise Catholics United” (emphasis added). 

Another Clinton-related email, from John Halpin of the Center for American Progress, mocks Catholics in the so-called conservative movement, especially converts: “They must be attracted to the systematic thought and severely backwards gender relations and must be totally unaware of Christian democracy.” In a follow-up, he adds “They can throw around ‘Thomistic’ thought and ‘subsidiarity’ and sound sophisticated because no one knows what . . . they’re talking about.” 

On the evening these WikiLeaks emails were released, I received the following angry email myself, this one from a nationally respected (non-Catholic) attorney experienced in Church-state affairs: 


I was deeply offended by the [Clinton team] emails, which are some of the worst bigotry by a political machine I have seen. [A] Church has an absolute right to protect itself when under attack as a faith and Church by civil political forces. That certainly applies here . . . 

Over the last eight years there has been strong evidence that the current administration, with which these people share values, has been very hostile to religious organizations. Now there is clear proof that this approach is deliberate and will accelerate if these actors have any continuing, let alone louder, say in government. 

These bigots are actively strategizing how to shape Catholicism not to be Catholic or consistent with Jesus’s teachings, but to be the “religion” they want. They are, at the very core, trying to turn religion to their secular view of right and wrong consistent with their politics. This is fundamentally why the Founders left England and demanded that government not have any voice in religion. Look where we are now. We have political actors trying to orchestrate a coup to destroy Catholic values, and they even analogize their takeover to a coup in the Middle East, which amplifies their bigotry and hatred of the Church. I had hoped I would never see this day—a day like so many dark days in Eastern Europe that led to the death of my [Protestant minister] great grandfather at the hands of communists who also hated and wanted to destroy religion. 


Of course it would be wonderful for the Clinton campaign to repudiate the content of these ugly WikiLeaks emails. All of us backward-thinking Catholics who actually believe what Scripture and the Church teach would be so very grateful. 

In the meantime, a friend describes the choice facing voters in November this way: a vulgar, boorish lout and disrespecter of women, with a serious impulse control problem; or a scheming, robotic liar with a lifelong appetite for power and an entourage riddled with anti-Catholic bigots. 

In a nation where “choice” is now the unofficial state religion, the menu for dinner is remarkably small." 

Charles J. Chaput, O.F.M. Cap., is archbishop of Philadelphia. 

16 setembro 2016

Navegando por entre populismos.

9 . 9 . 16



Immigration has emerged as a crucial political issue throughout the West. On Sunday, Angela Merkel’s Christian Democrat party was bested by Alternative for Germany in an election in Merkel’s own district. It was the first German election in which the upstart nationalist party had won more votes than Merkel’s venerable center-right party. There’s no doubt that Merkel’s decision to open Germany to more than one million Muslim refugees affected the outcome in a decisive way.
This outcome follows a pattern. Many factors contributed to the Brexit vote in the United Kingdom, but concerns about increased immigration were prominent among them. In Austria, the Freedom Party, which is also opposed to immigration, is poised to win control of the presidential palace. Hungary’s Fidesz, still another party opposed to immigration, is in firm control of the government there. Parties with similar profiles are gaining popularity in Switzerland, the Netherlands, Denmark, and elsewhere.
Immigration has played a key role in Donald Trump’s rise. His promise to build “a very beautiful wall” along our border with Mexico catapulted him into the public eye at the outset of the primary season.
The fact that voters are agitated by significant influxes of newcomers ought not to surprise us. What’s striking, on the contrary, is the inability or refusal of so many politicians to address the growing concern.
Trump insists that anyone residing in the United States illegally is subject to deportation. Many commentators regard such comments as inflammatory. I am baffled by their outrage. What, exactly, is meant by “illegal” if the lawbreaker is immune from consequences? And I have another point of confusion: Why doesn’t the Clinton campaign coopt this issue by offering a clear, but less drastic, plan for enforcing existing immigration laws?
The very notion of limiting immigration—building a wall—gets Trump described as “anti-immigrant.” But isn’t job number one for our political leaders to protect the interests of Americans, which surely entails restricting the number of people who can immigrate? Again, why doesn’t Clinton box out Trump by juxtaposing his extremist rhetoric with her own proposal for immigration reform? Clinton’s proposal can be more generous, but nevertheless keyed to the interests of native-born Americans.
Something strange is going on here, something I don’t fully understand.
One factor, no doubt, involves the putative benefits of immigration. Over the last two decades, many have argued that only increased immigration will save Europe from demographic decline and economic stagnation. This way of thinking, combined with idealism about an inclusive, compassionate Germany, can convince the political leadership there that admitting hundreds of thousands of refugees is in the best interest of all Germans. Similar arguments about the contribution immigration makes to economic growth in the United States comport nicely with the mythology of our immigrant nation.
But I think the reasons go deeper. A recent essay in Foreign Affairs by Kishore Mahbubani and Lawrence Summers, “The Fusion of Civilizations: The Case for Global Optimism,” outlines a vision for a more globalized, peaceful, and prosperous future—in which nations become less significant. Today’s emphasis on multiculturalism and “diversity” participates in this vision of the future, one in which differences are overcome and borders are irrelevant. It’s species of utopianism, to be sure, but it has a powerful grip on the moral imagination of the West.
In this view, national interest is an impediment to progress. Concerns about identity are, by definition, forms of ethnocentrism bordering on xenophobia. This is why the upsurge of populist concern about immigration—which I take to be a synecdoche for wide-ranging anxieties about the long-term significance of many social changes—are so vigorously denounced by mainstream politicians, journalists, and political commentators. It’s also why Hillary Clinton doesn’t isolate Trump by employing a more moderate and sensible nationalist rhetoric. The same goes from Angela Merkel. She is almost certain to persevere, in order to remain true to what she believes will best serve the common good, not just of Germany, but of the whole world.
G
lobalization has a unifying dimension, which we rightly applaud. At the same time, though, globalization is associated with economic and cultural changes that are dissolving inherited forms of solidarity—the nation foremost, but local communities, as well, and even the family. This dissolution encourages an atomistic individualism, which in turn makes all of us more vulnerable to domination and control.

By my reading of the signs of the times, the dangers of dissolved solidarity in the West are far more dire than our present upsurges of ethnocentrism and nationalism. It is atomized societies that are susceptible to demagogues—not societies that enjoy strong social bonds and organic communal solidarity. Islamic extremism thrives where traditional Muslim societies are disintegrated by the pressures of globalization.
We need to renew solidarity, rather than encourage the dissolving trends of globalization. This means taking populist, anti-immigrant trends seriously, not denouncing them. It also means thinking hard about how to strengthen what Abraham Lincoln called our “mystic chords of memory.” We need a Christian nationalism, one that encourages the unity of mankind while recognizing that human beings thrive best as members of a particular people and as proud recipients of a distinctive cultural inheritance.

R. R. Reno is editor of First Things.

12 setembro 2016

É só preciso vontade.


Já que afinal se pode tudo, propunha que juntássemos à lista a conclusão do Palácio da Ajuda.
Para dar assim um ar fresco e impante aqui à barraca que isso do austoritarismo fascizante já é coisa do passado.
Para o lisboeta é só mais um estaleiro e sempre se ficava com palácio real como deve ser...

23 agosto 2016

Tell him about his father.





To win four gold medals at a single Olympic Games is astonishing enough; however, to do so as a black person in 1936, at a tense Olympic Games hosted by Adolf Hitler, is almost beyond belief. Yet Jesse Owens did exactly that, somehow managing to ignore talk of Aryan superiority to take gold in the 100m, 200m, 4x100m relay, and long jump, all in the space of a few days. He also made a good friend in the form of German athlete Luz Long, the blond-haired, blue-eyed, long jump rival who swapped training tips with Owens and openly congratulated him after his final jump, in full view of Hitler.

Having bonded so well at the Games, Owens and Long kept in touch by mail. Below is Long's last letter, written during WWII from North Africa where he was stationed with the German Army and later killed in action. It reached Owens a year after it was sent. Years later, as per Long's request, Owens met and became firm friends with his son, Karl. He also went on to serve as best man at his wedding.

(Source: Jesse: The Man Who Outran Hitler. Photo via EAL09)

Transcript

I am here, Jesse, where it seems there is only the dry sand and the wet blood. I do not fear so much for myself, my friend Jesse, I fear for my woman who is home, and my young son Karl, who has never really known his father.

My heart tells me, if I be honest with you, that this is the last letter I shall ever write. If it is so, I ask you something. It is a something so very important to me. It is you go to Germany when this war done, someday find my Karl, and tell him about his father. Tell him, Jesse, what times were like when we not separated by war. I am saying—tell him how things can be between men on this earth.

If you do this something for me, this thing that I need the most to know will be done, I do something for you, now. I tell you something I know you want to hear. And it is true.

That hour in Berlin when I first spoke to you, when you had your knee upon the ground, I knew that you were in prayer.

Then I not know how I know. Now I do. I know it is never by chance that we come together. I come to you that hour in 1936 for purpose more than der Berliner Olympiade.

And you, I believe, will read this letter, while it should not be possible to reach you ever, for purpose more even than our friendship.

I believe this shall come about because I think now that God will make it come about. This is what I have to tell you, Jesse.

I think I might believe in God.

And I pray to him that, even while it should not be possible for this to reach you ever, these words I write will still be read by you.

Your brother,
Luz


28 junho 2016

Da nova do Fúria.

"É o teu rosto ainda que eu procuro
Através do terror e da distância
Para a reconstrução de um mundo puro."

Sophia de Mello Breyner Andresen

Haverá tempo. Eu vim para amar.


Passe a espuma pop, é golo. Dos bons.

"And in the cold light, I live to love and adore you
It's all that I am, it's all that I have"


31 maio 2016

Gente Ressuscitada.

No mundo há muita gente ressuscitada sem ter que esperar para depois da morte. Conheço muita gente: jovens que se dedicam a atenderem os inválidos; casais que são felizes com um filho deficiente; essa ceguinha que reparte a alegria no pavilhão dos cancerosos; missionários que consagram a sua vida ao próximo; jovens que neste verão, passaram as suas férias a cuidarem de um asilo de idosos; velhos sacerdotes que, tendo a merecida reforma, ainda continuam nessas perdidas freguesias que ninguém quer. Gente, muita gente ressuscitada...

E acostumámo-nos a pensar que a ressurreição é uma coisa que se alcança do lado de lá da morte. E ninguém pensa que a ressurreição é simplesmente entrar em “mais” vida. Que a ressurreição é algo que Deus dá a quem lho pede, sempre que, depois de pedir, continue a lutar por ressuscitar cada dia.

A ressurreição é, com Bessiere, “um fogo que nada ou ninguém pode apagar”. Nada ou ninguém – claro – excepto a nossa própria mediocridade ou desinteresse.

Os ressuscitados são os que têm “mais vida”, “vida” que contagia, que demonstra que todo o homem se ultrapassa a si mesmo e que é mais forte que a morte!!!

E tu, também, és ou podes ser uma pessoa ressuscitada! A morte, é claro, vai-nos cortando ramos todas as noites, mutila ilusões e esperanças, que te foram cortadas à noite…

Como fazer? Simples! Levanta-te; levanta-te convencido de que o fazes para viver e não para vegetar! Olha-te, depois no espelho…sorri! Descobre que quando sorris ficas mais bonito ou bonita; e agora pergunta-te em quê ou em quem vais investir esse sorriso e esse dia que te acaba de ser oferecido! Recorda-te que quando Jesus ressuscitou não o fez para ficar com um corpo brilhante, mas para ajudar os seus que estavam a passar por muitos apertos, atrapalhados com o medo da morte.

Dedica-te, portanto, a repartir ressurreição! E verás que os outros se sentem melhor depois de falarem contigo...


Texto adaptado de Razões para viver, de M. L. Descalzo

05 maio 2016

Regina.


"Maria deve ser, mais do que nunca, a pedagogia para anunciar o Evangelho aos homens de hoje."

Papa Bento XVI


19 abril 2016

Costa é óptimo. E isso é péssimo.

por João Miguel Tavares
Público | 19.04.2016

"Sendo António Costa um mestre do improviso sem especial talento para o planeamento e um político que reage bem melhor do que age, ele é um homem com qualidades para o tempo errado."

Sempre admirei o talento político de António Costa. Escrevi em tempos que ele e Pedro Passos Coelho eram os melhores políticos da sua geração e não mudei de opinião até agora, mesmo que nestes tempos extremados cada lado tenha tendência para ver no outro a encarnação de Belzebu. Se erguermos a cabeça um pouco acima da espuma dos dias e abandonarmos por um momento o facciosismo mais trauliteiro, facilmente nos deparamos com um conjunto de características que ambos ostentam (persistência, resistência, sangue frio, determinação, carisma, capacidade de liderança) que são bem mais raras do que parecem.

Mesmo de uma perspectiva de direita, que é a minha, é impossível olhar para António Costa e não admirar o seu engenho e as suas capacidades políticas, bem demonstradas no trabalho em Lisboa, na forma como defenestrou António José Seguro e liderou as negociações pós-legislativas para assaltar o poder, na solidez que uma coligação colada a cuspo tem, apesar de tudo, vindo a demonstrar, ou simplesmente no modo como apontou a porta de saída a João Soares, aplicando-lhe para tal um raspanete dos tempos da palmatória. António Costa é bom. Mais do que bom, ele é óptimo – e é por ser óptimo que a sua governação corre o risco de vir a ser péssima para o país.

A razão é esta: quando se está errado, é muito mais grave ser-se competente do que incompetente. Um político competente com uma visão totalmente equivocada pode enterrar-nos muito fundo, e temo cada vez mais que António Costa seja esse tipo de político. Ele é um líder de mão cheia, só que as suas ideias para o país são péssimas; tem todas as qualidade políticas certas, só que ao serviço de uma estratégia de keynesianismo de casino (gastar o dinheiro que não temos cruzando os dedos para que saia jackpot) que só pode correr mal, porque ainda há diferenças entre um bom político e um santo milagreiro. Costa é como aqueles jogadores de futebol que inventam fintas incríveis dentro de uma cabina telefónica mas quando chega a altura de rematar à baliza fazem autogolo. Costa é o recordista mundial dos 100 metros a correr para trás.

Os números que reflectem a era deste regoverno começam aos poucos a pingar, e com eles uma revisão do crescimento em baixa que coloca em causa todas as contas de Centeno e todo o paleio anti-austeritário de Costa. Por mais que o primeiro-ministro se esforce por fintar toda a gente, dificilmente conseguirá fintar a realidade, essa palavra tão vilipendiada por quem prefere viver num mundo de ficção.

Ora, sendo António Costa um mestre do improviso sem especial talento para o planeamento e um político que reage bem melhor do que age, ele é um homem com qualidades para o tempo errado. O primeiro-ministro poderia ser um óptimo líder para Portugal se o momento histórico que vivêssemos fosse dado à gestão de acontecimentos totalmente inesperados, onde a capacidade para arriscar e a criatividade política fossem grandes mais-valias. Só que não é esse o nosso presente. Aquilo de que precisamos desesperadamente é de assentar num rumo firme, sustentável e previsível para os próximos dez anos e numa profunda mudança de mentalidades. Pôr essa tarefa nas mãos de um jogador de casino é um risco imenso para Portugal. E, no entanto, ele aí está, a subir nas sondagens. Preparemo-nos: António Costa pode vir a revelar-se demasiado bom para o nosso bem."

11 abril 2016

Do politicamente correcto.

“Quando se eliminam as grandes leis, não se ganha liberdade; não se alcança sequer a anarquia. O que se ganha são pequenas leis”


G. K. Chesterton
Daily News, 7/29/1905



07 abril 2016

Xerife Sowinds.

É só Cóltura!
Enquanto os arbustos secos rolam pelas ruas de Lisboa, Xerife Sowinds chega ao terreiro e vende bufete a desconto.
Tal e qual como um sppaghetti western.

Só quem acha que Portugal é o seu feudo fala assim.
#ForeverSowinds






06 abril 2016

Estamos cá para dar.



“Que riqueza é estar de boa saúde, como nós! Mas temos o dever de pôr a nossa saúde ao serviço daqueles que não a têm. Agir de outro modo seria uma traição a esse dom de Deus.”.

Beato Pedro Jorge Frassati
no dia do 115º aniversário do seu nascimento (6 de Abril de 1901)



21 março 2016

o regresso do filho pródigo.


"Uma pessoa tem que morrer muitas vezes e derramar muitas lágrimas para poder pintar um retrato de Deus com tanta humildade."

Paul Baudiquet | La vie et oeuvre de Rembrandt

29 fevereiro 2016

do liberalismo e porque é que não chega.

com Mcintyre,


"Liberalism, while imposing through state power regimes that declare everyone free to pursue whatever they take to be their own good, deprives most people of the possibility of understanding their own lifes as a quest for the discovery and achievement of the good, especially by the way in which it attempts do discredit those traditional forms of human community within which this project has to be embodied. "




02 fevereiro 2016

Das Utopias.


"A esquerda sempre foi utópica, mas antigamente a utopia servia para criar novos mundos – agora serve para negar a existência deste."

João Miguel Tavares
in Público 02/02/2016

28 janeiro 2016

O mistério da direita.

por João César das Neves
DN | 28.01.2016

"Portugal é um país de esquerda. Os cidadãos, sempre rebeldes e desconfiados da autoridade, gostam de um Estado protector e interveniente. "Liberal" é insulto comum e a concorrência costuma ser considerada injusta e desumana, enquanto se promovem subsídios, apoios e regulamentos. Não há dúvida de que a ideologia nacional pende claramente para o socialismo.

Este facto levanta questões interessantes. Sobretudo porque, pelo menos desde 1834, são as forças à direita quem mais têm governado o país. Durante os 77 anos do chamado liberalismo, os partidos cartista e regenerador estiveram no poder 56% do tempo. Na república, os "48 anos de fascismo" dominam esmagadoramente mas, mesmo considerando apenas o período constitucional desde 1976, o PSD esteve no poder 20% mais tempo do que o PS. Como explicar o paradoxo?

O primeiro aspecto é doutrinal. Por cá a direita não segue a linha típica dessa orientação, abraçando muitas ideias habituais à esquerda. Existem forças e ideólogos assumidamente de direita, mas nunca conseguiram real influência. Entretanto, os governantes da área seguiram rumos políticos muito variados. Salazar foi corporativo e desde 1974 domina a social-democracia. Antes, líderes como Costa Cabral e João Franco, mas também Fontes Pereira de Melo e Hintze Ribeiro, eram mais pragmáticos do que doutrinários. Aliás, vários deles, como Cabral, Brito Camacho ou Durão Barroso, tinham originalmente militado à esquerda.

Apesar das orientações, normalmente estatistas e intervencionistas, esses líderes têm em comum a característica de serem desprezados, ou pelo menos menorizados, pela intelectualidade nacional. Fontes, Salazar ou Cavaco são personalidades singulares, estranhas ao padrão lusitano. As elites evitam-nos, quando não os hostilizam. Nos vários duelos políticos da nossa história, a opinião ilustrada esteve em geral contra a direita. Pelo contrário, são as personalidades do outro lado que costumam ficar bem na fotografia.

Os heróis da nossa democracia são Passos Manuel e Almeida Garrett, Anselmo Braancamp e Luciano de Castro, Machado Santos, Humberto Delgado, Mário Soares e António Guterres. Até aqueles líderes que deixaram um desastre em herança, como Afonso Costa, Vasco Gonçalves ou José Sócrates, mantêm muitos apoiantes e uma imagem histórica pelo menos ambígua. Ao contrário, os dirigentes da direita que conseguiram períodos governativos soberbos, como Salazar ou Cavaco, são precisamente os mais atacados pelos media e historiadores. Esta insólita realidade constitui mais uma prova de que o país é socialista.

Então por que razão a direita governou tanto tempo? A resposta está numa terceira característica quase comum a todos esses líderes: em geral chegam ao poder em situações de grave crise nacional, como salvadores da pátria. Esse traço é evidente nos casos de Costa Cabral, João Franco, Pimenta de Castro, Sidónio Pais, Salazar e Sá Carneiro, mas também se aplica a Cavaco Silva, Durão Barroso e Passos Coelho. A direita costuma ser chamada em momentos dramáticos para equilibrar desastres que outros causaram. O único caso destes à esquerda é o de Soares, que por duas vezes teve de chamar o FMI; primeiro por culpa da extrema-esquerda, depois por causa da direita, numa das poucas crises que gerou. Curiosamente, os dois líderes desse lado que, não tendo tomado poder após colapso, geraram um são precisamente os mais conceituados junto da intelectualidade: António José de Almeida e Francisco Pinto Balsemão.

Quer isto dizer que a direita governa melhor do que a esquerda? Os consulados de Fontes, Salazar e Cavaco, coincidentes com os períodos de maior progresso e florescimento nacional dos últimos dois séculos, parecem indicá-lo. Na esquerda o único exemplo vagamente comparável é o de Guterres, mas com um crescimento alimentado por dívida, que gerou um desequilíbrio crescente. Pior, esse sucesso vem manchado pelos tremendos desastres de Passos Manuel, Afonso Costa e Vasco Gonçalves, precisamente os piores dos últimos séculos. O saldo dificilmente podia ser mais evidente, paralelo à comparação entre as Alemanhas ocidental e oriental ou as Coreias do Norte e do Sul.

No entanto, apesar de serem verdades históricas indiscutíveis, todas estas afirmações são difíceis de engolir, mesmo no Portugal livre e democrático contemporâneo. A imagem que temos é de paridade entre as duas linhas, senão mesmo de superioridade da esquerda. A verdade é que, se a direita por cá é má, a esquerda costuma ser bastante pior. O que é terrível num país socialista."


25 janeiro 2016

Forty-Three Years After Roe vs Wade | Robert P. Wade | in FirstThings.com

Ijust noticed that the little reflection I wrote on the anniversary of the tragedy of Roe v. Wade has been shared more times than anything else I've ever posted. I am grateful to everyone who shared it. The abortion license is continuing to gnaw at the conscience of our nation, as the Republican Ronald Reagan and the Democrat Robert P. Casey, and the saint Mother Teresa of Calcutta, told us it would. At some level most Americans—including those who do not yet dare to acknowledge, even to themselves, the justice of the pro-life cause—know that killing the unborn is not the answer. We must love mother and child equally, limitlessly, and unconditionally, and never pit the alleged good of one against the other.
In 1973, seven supremely fallible men in black robes purported to settle the abortion question. Supporters of the abortion license cheered. Pro-life citizens were, they insisted, “on the wrong side of history.” (Sound familiar?) Legal, publicly funded abortion was, they claimed, “enlightened” policy. It was required for women's equality, reducing the welfare rolls, and “social hygiene.” Resistance was futile. All the young people were for it. Only a few elderly priests and some back woods fundamentalists were still against it. The priests would soon die out and the “fundamentalists” were already marginal. The churches would get on board—several already were as members of the “Religious Coalition for Abortion Rights”—and stay on board. Soon abortion would be integrated fully into American life and no one who mattered would question it. In a few short years, it would no longer be an issue in American politics and most people would forget that it ever was.
But the pro-life movement kept faith with abortion's tiny victims. In the great civil rights struggle of the post-segregation era, a grassroots movement kept the flame burning and kept hope alive. We refused to abandon the unborn to the “tender mercies”—or women to the ghoulish “compassion”—of the abortionists at Planned Parenthood and the like. We had little support among the wealthy, powerful, and influential. Wall Street hoped we would go away. The media were playing for the other team. The intellectual elites mostly sneered. But janitors and school teachers, factory workers and stay-at-home moms, insurance salesmen and office workers and cashiers at the grocery store, and retired people from all walks of life refused to leave the field. They prayed and protested and counseled on sidewalks in front of the abortion mills. They pounded the marble floors in the legislative chambers. They built pro-life pregnancy centers across the nation to provide material, moral, and spiritual support for our pregnant sisters in need (and so often in fear).
And guess what? Young people came flooding into the movement. Brilliant, courageous, dedicated, determined young men and women. “I survived Roe v. Wade,” they declared, “but Roe v. Wade will not survive me.” And they meant—and mean—it.
In the meantime, science marched on, confirming and reconfirming and reconfirming yet again the biological fact of the humanity of the child in the womb. The anti-scientific posturing about the impossibility of knowing “when life begins” became more and more implausible, to the point that it now sounds ridiculous. And that is for the simple reason that it is ridiculous. Serious, intellectually competent defenders of abortion no longer claim that abortion is not, or cannot be known to be, the violent killing of a human being in utero. And sometimes they reprimand their fellow abortion supporters for continuing to talk such nonsense. Peter Singer, for example, speaks plainly of abortion as the taking of human life and warns those who try to rest the “pro-choice” case on that denial that they are placing their (and his) cause in jeopardy. The late Ronald Dworkin candidly (and accurately, if chillingly) described abortions as “choices for death.” People like Singer and Dworkin want to build the case for abortion on the idea that no one has dignity or a basic right to life merely on the basis of his or her humanity. Merely to be a human being is not enough. To be a person—a creature with worth and interests that count (Singer) and rights (Dworkin), one must acquire or attain other features or qualities. That is, I believe, bad philosophy—and incompatible with the basic principles of our civilization and polity; but at least it does not rely on denying basic facts known to anyone who has taken the trouble to acquaint himself or herself with modern human embryology and developmental biology.
I believe I know how the story ultimately ends. I've had a peek at the last page of the book. But that's a matter of faith. And I cannot predict where we will go in the short to medium or even medium to long term. Not do I have any idea how long the “long-term” will be. I don't know how long the little corpses will continue to pile up or the hearts of so many other victims of abortion, including (by their own testimony) many women who have sought or submitted to abortions, will continue to be broken. I do not believe that the future is determined or that history has definite trajectories or “sides.” Truth and justice, however, do have sides—right and wrong sides. And we should deeply care about being on the right side, even in circumstances in which there is little ground for hope of success or victory anytime soon. But when it comes to protecting unborn babies and their mothers, we are, thank God, not in such circumstances. Evidence is everywhere that our prayers and efforts are availing. Hearts are turning. Young and old are gaining strength, confidence, and courage. They are committing to the cause, deepening their commitment to the cause, finding their voices.
We shall overcome.
Robert P. George is the McCormick Professor of Jurisprudence at Princeton University.

18 janeiro 2016

Da Educação.


"A educação, ou é integral ou não é nada. Educar não é despejar um conjunto de conteúdos para a cabeça de uns quantos indivíduos mas, sobretudo e principalmente, formar cidadãos livres e responsáveis."

P. Gonçalo Portocarrero de Almada
in Observador | 18.01.2016



15 janeiro 2016

Da subsidariedade, que não tem nada a ver com o Pai Estado.

O princípio da subsidiariedade baseia-se no respeito da liberdade e na protecção da vitalidade dos corpos sociais intermédios (família, associações, entidades culturais, económicas, ONG's, e outras que são formadas espontaneamente no seio da sociedade). Não deve o Estado interferir no corpo social e na sociedade civil além do necessário. Por outro lado deve o Estado exercer atividade supletiva quando o corpo social, por si, não consegue ou não tem meios de promover determinada atividade, como também deve o Estado intervir para evitar situações de desequilíbrio e de injustiça social.

encíclica Quadragesimo anno de Pio XI

04 janeiro 2016

Da Natureza das Coisas.

"Ainda que um governo faça uma lei que permita aos burros que voem, não é por isso que eles passam a nascer com asas."

P. Jorge Loring Miró, sj
Padre jesuíta espanhol, ensaísta, conferencista e perito no Santo Sudário
(1921-2013)