31 agosto 2012

Cantares de Adolescente I

brindo à criação
e à jovem criatura
às cores do verão
e à perfeita curvatura

dai-nos senhor sempre
o maravilhoso complemento
de infantas-esplendor
dai-nos graça no momento!

30 agosto 2012


A vida devia ser assim de fácil, de ritmo, 
de complemento, de riqueza e pose.

29 agosto 2012


A promiscuidade tira a vontade.


O que é a experiência? Nada. É o número dos donos que se teve. Cada amante é uma coronhada. São mais mil no conta-quilómetros. A experiência é uma coisa que amarga e atrapalha. Não é um motivo de orgulho. É uma coisa que se desculpa. A experiência é um erro repetido e re-repetido até à exaustão. Se é difícil amar um enganador, mais difícil ainda é amar um enganado. 
Desengane-se de vez a rapaziada. Nenhuma mulher gosta de um homem «experiente». O número de amantes anteriores é uma coisa que faz um bocadinho de nojo e um bocadinho de ciúme. O pudor que se exige às mulheres não é um conceito ultrapassado — é uma excelente ideia. Só que também se devia aplicar aos homens. O pudor valoriza. 0 sexo é uma coisa trivial. É por isso que temos de torná-lo especial. Ir para a cama com toda a gente é pouco higiénico e dispersa as energias. Os seres castos, que se reprimem e se guardam, tornam-se tigres quando se libertam. E só se libertam quando vale a pena. A castidade é que é «sexy». Nos homens como nas mulheres. A promiscuidade tira a vontade.
Uma mulher gosta de conquistar não o homem que já todas conquistaram, saquearam e pilharam, mas aquele que ainda nenhuma conseguiu tocar. O que é erótico é a resistência, a dificuldade e a raridade. Não é a «liberdade», a facilidade e a vulgaridade. Isto parece óbvio, mas é o contrário do que se faz e do que se diz. Porque será escandaloso dizer, numa época hippificada em que a virgindade é vergonhosa e o amor é bom por ser «livre», que as mulheres querem dos homens aquilo que os homens querem das mulheres? Ser conquistador é ser conquistado. Ninguém gosta de um ser conquistado. O que é preciso conquistar é a castidade. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

mumford teasing.




enquanto o comboio passa,
pare, escute e olhe,
sinta, veja e oiça,
ganhe tempo.

28 agosto 2012


irresistível aura pós-guerra. mundo analógico de passaportes e carimbos em que redes só haviam as de pesca. classe. cavalheiros. combates intrépidos pela justiça. bons e maus porque os bons eram bons e os maus eram maus. tempos ingénuos de quem sobreviveu ao armagedão e triunfou com a avalanche de ocidente. tudo isto num punhado de tiras de BD. assim também eu! abater a marca amarela assim, era fácil...
apanhado no designwise.

margarida debalde pinto.

não há paciência
para a prepotência
de vossa eminência

tenha clemência
ou então por decência
um pouco de ausência

assim penitência
e cura em potência
da sua demência

vossa excelência
esbanja a essência
na mole indulgência

josé dos risos de espantos.

escreva quem sabe, quem brota
quem à derrota diz "musa!"
por ser atroz e escória
da memória esquecido

esse que renasce das cinzas
amanhecido em rasgo novo
fita o outro monte e lá defronte
se dá ao piso

varram da frente o escreve-linhas de corda
que enche folhas que depois ata e vende
e livro lhe chama e por isso mente

realejo de papel e escrita pope.
que vai às revistas dizer em colunas
coisas desunas de história em cordel

pobre bicho que subcontrata o lixo
por já nem lixo saber escrever
o escreve-linhas de corda de livros
de folhas que enche e que ata e que vende
e que mente e diz que é livre
e a gente se livre de não ler o livro

27 agosto 2012

Nem mais!

Mais um golo do Lourenço no Complexidade e Contradição.

"Uma palavra para António José Seguro. A vida democrática só existe com alternativas de poder, e é bom ver que ele está lá. Mantendo-nos a todos debaixo da sua asa protectora. Não se preocupem, parece dizer, o Tó Zé está aqui, a ver tudo, a tomar conta de tudo. Todos os dias o Tó Zé sai da cama só para nos defender do governo malvado. Liga a televisão, ouve a proposta do dia, e à tarde está a propôr o seu contrário. O Tó Zé está para o governo como a anti-matéria está para a matéria: se o governo é o electrão, todo cheio de cargas negativas e maus olhados, o Tó Zé é o positrão, todo animado e positivo. Com ele, o futuro brilhará, e brilhará de todas as maneiras possíveis, até ao infinito. Com subsídios, com televisão, com circo às quintas-feiras. Palavra de positrão."

20 agosto 2012

crimes, sustos, gin e kir royal;
bandas, converseta, bailarinas e minis;
piscinas naturais e festas da aldeia;
tiques e palcos móveis;
uma curva depois de outra;
amigos e namoradas;
rankings e brindes;
governo e desgoverno;
fofos, largos, gansos e os que montam;

férias, Férias, FÉRIAS.

17 agosto 2012

Apercebi-me agora de como a nova aparência do tá muita bom invoca ecos e tons e cores desse clássico chamado "Momentos e Glória"; em estrangeiro Moments of Glóre, como diria Lauro Dérmio. Foi uma coincidência. Ainda bem! São as mesmas cores e espírito que impregnam cada uma das criações. Apesar de uma ser um clássico do cinema, vencedor do óscar de melhor filme, e a outra um blogue menor e marginal da blogosfera, bebem as duas desse mesmo espírito que anima os atletas da primeira e o autor do segundo: dar o peito às balas e agarrar a vida com as duas mãos.
Não vivo assim, mas corro como eles para lá chegar.




16 agosto 2012

"Como é que eu reagiria se fosse a uma celebração litúrgica numa igreja e de repente desse por mim rodeado de santos? Ou melhor, se reparasse que as pessoas que estão ao meu lado são exactamente iguais às representações dos santos que estão nas paredes da igreja? Parece impossível que isto suceda, mas uma experiência destas pode eventualmente ocorrer para esta geração, na catedral de Los Angeles."