05 dezembro 2018

Prateleira de Novembro.


Novembro pode ser mês de entretanto. Entre o verão e o Natal, por exemplo. E os dias de Novembro até podem ser dias de entretanto em que vamos entretidos. Só que Novembro é mês de reacção - e de sapatos postos. Explico.
A 5, em Londres, quando quiseram travar um tirano com uma tirania - amor, com amor se paga. A 25, em Lisboa, quando travaram um tirano com democracia - amor, com amor se paga.
Em todos os dias, das vidas de todos, dar ou largar a mão, para ter mão.
Em Londres não explodiu o parlamento. Em Lisboa não implodiu um país. Nos nossos lugares uma decisão reagiu. Em todos eles, em nome do que importa, em nome de sapatos postos.
"Quando deixas os teus sapatos ao pé dos meus, não sei se estou a construir-te um futuro ou a curar-me um passado, mas sei que esta história não acabou".


Amor, com Amor se paga.

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30 outubro 2018

Prateleira de Outubro.


Outubro é mês de Movimentos.
A 5, o da nossa fundação que sete séculos depois, ao dia, recomeçou outra vez, deixando para trás um sangue que não se rompeu do primeiro Afonso ao último Manuel. Mudam as regras, continua a gente.
 A 13, o da romaria ao lugar que era lado nenhum, por causa de três crianças que eram coisa nenhuma, à espera da senhora do céu que era todas as coisas.
A 18, o de uma aliança numa capela perdida na floresta de um vale perdido, entre os montes perdidos de um lugar que não aparecia no mundo.
A 24 no lugar de são pedro do inverno, coração do império de todas as rússias, explode o do combate entre duas massas totais, e o Homem feito massa na primeira, sucumbiu de novo na segunda - regras totais não toleram pessoas.

Outubro é mês de movimentos transcendentes – na História e na alma.

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01 outubro 2018

Prateleira de Setembro.


Setembro é um mês feio. Lamento. É mês de vindimas, cantigas e lagares, mas eu não moro nesse paraíso. Vivo nos prédios e no trânsito. Há quem vibre com a agitação dos recomeços e das pastas e dos estojos. Eu suplico.
Pior do que as horas que duram menos é dar de caras com filhos que já fazem picotado, sem ninguém me ter pedido autorização - deixará o leitor acidental passar a nota mais íntima mas não será certamente indiferente ao escandaloso catarro da formiga. Eu lembro-me de fazer picotado! É coisa séria. 
Setembro tem um ar ameno, mas é de extremos - a 1 o da guerra que veio depois da que ia acabar com todas, a 11 o do terror impossível, a 20 o do cisma romano, em todo o mês o ciclone bolivariano. Setembro não é um mês para fracos.

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26 setembro 2018

Como tinha anunciado pela boca dos profetas.

“O Senhor mostrou o poder do Seu amor, como tinha anunciado pela boca dos profetas.”


O Senhor mostrou.
Deus Nosso Senhor, o Todo-Poderoso, o eterno Senhor de todas as coisas, o Criador do Universo, escolhe mostrar-se. E escolhe mostrar-se a mim, pobre mendigo do altar.
Ele é outra coisa, está noutro plano, mas entra no meu, mete-se nas minhas coisas.
Que maravilha. Que impossibilidade. Que demora interior…
Podíamos ficar por aqui e ficávamos bem.

O poder do Seu amor.
Não é a grandeza da Sua glória, ou a Sua omnipotência ou o senhorio de todo o universo. É o seu Amor que escolhe mostrar. É o seu Amor que está uma e outra vez à minha espera. É o seu Amor que me salva e acalma. Que me sustém e pacifica. É o seu colo que me cura quando caio. É a sua verdade que me liberta. É a sua paciência que espera por mim e a sua caridade que me educa. É a sua graça que me alimenta e faz o meu cálice transbordar.

Como tinha anunciado.
Não somos marionetas nas mãos de um mestre de caprichos. A vida não é um jogo de cabra-cega.
Não é automática nem é sempre fácil mas, não tem de ser às cegas. O bom Deus não está entretido a ver-nos correr à toa.
Ele escolhe profetas e faz-se anunciar. Dá-nos pistas e fortaleza. Anima a nossa esperança e usa a nossa própria vida para nos dar o mapa. Não vamos sozinhos.

Se vivêssemos com isto realmente presente, andaríamos de olhar sempre ligeiramente levantado aos céus e sorriso consolado como quando nos bate o primeiro sol da primavera e começamos finalmente a secar os ossos. Tropeçaríamos nas coisas dos homens, é certo. Mas vale mais o sol que uma nódoa negra.

No fim, depois de tudo, para lá dos enganos e soberbas, quando finalmente sou capaz de ver, é Ele que vejo e é o Seu abraço que me espera.
Ele espera pelos pródigos. Ele espera por mim.



25 setembro 2018

Parte da Solução.


A Europa sempre foi uma manta de retalhos de nações e regiões, cerzidas pela matriz judaico-cristã que unifica toda esta diversidade e forma o primeiro bloco dito ocidental. É deste cadinho que nasceram os "valores ocidentais" - outra conversa será chegar a elencá-los. Mas é fácil reconhecer que há um núcleo partilhado.

Um núcleo partilhado. A força da Europa, do Ideal dos Fundadores, está precisamente nesta unidade na diversidade. Está na decisão soberana que cada nação toma de caminhar em conjunto, As realidades e heranças nacionais, as culturas de cada país, são força e riqueza para a União. Não são um problema.

A União estritamente tecnocrática e democraticamente deficitária, a União feita império burocrático que vemos surgir, está muito aquém do Ideal de União de Nações e Povos. Mais do que isso, e mais grave por isso, tenta fundar uma outra nação, uma outra cultura, uma outra realidade supra-nacional, ao arrepio da própria substância que a compõe.
Todo o projecto humano tem a tentação de racionalizar modelos totais e forçar um todo homogéneo, normalmente em doses de xarope amargo. Não é um "mal europeu". Mas está aí e tem de ser resolvido por todos - não é a bater com a porta que vamos lá. 

Ai de nós se não percebermos que o outro não tem de ser igual a mim para ser meu irmão.
Aprendamos a construir a partir da diversidade, sem convergências abusivas.

Não existe "mais Europa" sem prejuízo da originalidade nacional de cada estado que, mesmo sendo um conceito difícil de fixar e descrever, está presente de forma inequívoca em cada país.

Não existe "mais Europa" porque já somos todos intrinsecamente europeus. A história de cada nação não se escreve sem a história das outras nações, sem o esteio partilhado desse grande épico milenar.

Acabemos de vez com esta maneira de pensar a nossa União, olhando para as culturas e idiossincrasias nacionais como entropias ineficientes no grande modelo total.

A Europa não é outra coisa num plano qualquer que transcende os estados. Tem de ser mais intrínseca, e por isso, mais manta de retalhos e menos chapa de um qualquer material uniforme e banal. 

Caminhar juntos, não quer dizer caminhar iguais.



22 agosto 2018

Prateleira de Agosto.


Agosto, mês quieto. Mês de horizontes.
A 14 a batalha que abre o de um novo mundo, cá e lá. A 15 a mãe toda inteira, assumida, recolhida, abraçada no do amor. A 1 o mais querido, o da que me tem e em quem descanso, a de quem falo sempre que o faço.
Mês de horizonte-mar e banho até ser noite na praia-de-graça, revelada, de pais e filhos que preferem o bom ao prático e crescem juntos por isso. Mês de cheiro a férias e mergulhos que lavam por dentro. Mês de ver a vida boa, não a conveniente, no horizonte-mar que é mundo novo.
Rebenta a onda e passa a gaivota, o cão passa e a criança à solta rebenta em gargalhada. A falésia dilata ao sol e eu não vou passar pela vida sem que a vida passe através de mim.

Uma colaboração para ninguém
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31 julho 2018

Prateleira de Julho


Julho, mês de Júlio César, calor e revolução.
Nos Estados Unidos, o dia 4 da indepência, em França, o dia 14 da Bastilha, em Portugal o volte-face a 24, o da avenida, nesse outro embate entre constituição e tradição.
Tempo do estio e dos corpos lânguidos de areia e ondulação. Calor e revolução, audácia, amor e reparação. Apeadeiro da tradição que me trouxe, à espera da constituição que quero ser.
Prateleira de cheiro a mar, posta, composta, proposta. Não será tão simples como eu pensava. Não falo de países, mas de esperanças. Quem disse que tudo está perdido?
Eu venho oferecer o meu coração.

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20 julho 2018

Barro Talvez

Te doy una canción.



"Cómo gasto papeles recordándote,

Cómo me haces hablar en el silencio.
Cómo no te me quitas de las ganas
Aunque nadie me ve nunca contigo.
Y cómo pasa el tiempo, que de pronto son años
Sin pasar tú por mí, detenida.

Te doy una canción si abro una puerta
Y de las sombras sales tú

Te doy una canción de madrugada,
Cuando más quiero tu luz
Te doy una canción cuando apareces
El misterio del amor
Y si no lo apareces, no me importa:
Yo te doy una canción

Si miro un poco afuera, me detengo:
La ciudad se derrumba y yo cantando.
La gente que me odia y que me quiere
No me va a perdonar que me distraiga.
Creen que lo digo todo, que me juego la vida,
Porque no te conocen ni te sienten.

Te doy una canción y hago un discurso
Sobre mi derecho a hablar.
Te doy una canción con mis dos manos,
Con las mismas de matar.
Te doy una canción y digo Patria,
Y sigo hablando para ti.
Te doy una canción como un disparo,
Como un libro, una palabra, una guerrilla:
Como doy el amor."

Sílvio Rodriguez

27 junho 2018

Ressuscitando

Pe. Miguel Gonçalves Ferreira, sj


"Talvez seja este gerúndio a forma verbal que melhor descreve o que está a acontecer na aldeia de Ferraria de S. João, concelho de Penela, distrito de Coimbra. Faz agora um ano que por lá passou o grande incêndio de Pedrogão. Logo na semana seguinte, um grupo de moradores da aldeia meteu mãos à obra para fazer acontecer o futuro, de um modo surpreendente. Eles próprios tinham sido surpreendidos pela maneira como um pequeno bosque de sobreiros se tornou o único aliado dos dois carros de bombeiros que tinham vindo fazer frente às chamas. Entendida a lição dada por estas árvores centenárias, os habitantes iniciaram o projecto de envolver toda a aldeia com um cordão de árvores resistentes ao fogo. Falamos de 12 hectares onde existem 255 parcelas de terreno com 77 proprietários diferentes, dos quais só foi possível localizar 40. Este é apenas mais um retrato desse “outro Portugal” de que tem falado o Presidente da República.

O que mais impressiona neste projecto, que pode ser acompanhado no facebook é a força anímica de três famílias que há alguns anos se mudaram para esta “Aldeia do Xisto”. Esta é, então, a história de como o Pedro e a Sofia, o António e a Maria, o Ricardo e a Catarina conseguiram motivar o Manuel, a Arrelete, a Sandra, a Isabel, o José, a Benilde, a Fátima, a Isilda e os restantes habitantes deste povoado de 40 almas. Esta é a história de um contágio positivo de confiança que envolveu dezenas de pequenos proprietários em mais de 20 pacientes reuniões. Bom seria que não fosse caso único no país! Só assim é possível que, um ano depois da tragédia, haja mais de 400 árvores plantadas, tendo sido removidos os eucaliptos e os pinheiros que bordejavam a aldeia. Estas pessoas sabem que eucaliptos e pinheiros são essenciais para a sustentabilidade da floresta, mas cada árvore no seu lugar. O sonho de um novo futuro foi crescendo com o apoio do Município de Penela, de Associações várias e de uma legião de mais de 500 voluntários vindos de muitas partes que, ao longo deste ano, foram participando num processo de transformação social e intervenção ambiental verdadeiramente exemplares.

Tão diferente é este Portugal real do “reality show” que nos invade através dos media! Esta maneira comunitária e personalizada de lidar com a vida é tão diferente dos maneirismos ideológicos, dos editais sem rosto, dos mega interesses económicos que esquecem as pessoas, das leis que a cidade dita para quem vive no campo. Tão diferente é esta justiça que restaura a realidade daquela que, servindo-se das leis, acusa os pequenos para ilibar a responsabilidade dos grandes. Como é injusto e destrutivo o desprezo com que o “Portugal que interessa” olha para o interior! O nosso grande problema é andar há mais de cem anos a repetir com o Ega: “Lisboa é Portugal (…). O país está todo entre a Arcada e S. Bento!”.

Eis as razões pelas quais vale a pena conhecer o futuro humanizador que está a nascer na Ferraria de S. João. Renasce a vida de árvores e pessoas, que até há um ano se sentiam abandonadas. Fez então todo o sentido celebrar uma Missa de aniversário na qual – sem esquecer os mortos! – se animaram os vivos na confiança de que é possível “fazer novas todas as coisas”. Basta que lancemos a semente à terra com confiança! Aconteceu no Domingo, o dia em que a Vida venceu a morte, ressuscitando!"

Genealogia do Céu.

"[...] Refiro-me à abertura, à bondade e à beleza, irmãs gémeas da verdade."


D. Manuel Clemente
Cardeal Patriarca de Lisboa

Excerto do prefácio do livro “D. António Marto. O Cardeal de Fátima” (Paulus Editora).


23 abril 2018

Dos azares.

por João Maria Condeixa.

"Ao terceiro cancro encomendou o caixão. Queria deixar tudo resolvido e já tinha tido avisos a mais para se manter de braços cruzados. Se não fosse com este havia de morrer com o próximo. E assim se decidiu a arrumar as suas coisas.
Tratou de encomendar a burocracia, encerrar as contas do banco insolúvel, deixar escritas as partilhas que ninguém queria, arrumar pela grossura de lombadas uma vida inteira de livros, empacotar a coleção de hóstias que de vários cantos do mundo tinha optado por não comungar e até escovou as penas ao seu velho amigo Jacob, o papagaio que nunca na vida imitara mais que um arroto. 
Ao longo de meses foi ao mais ínfimo pormenor sempre com receio que o cancro lhe ditasse o fim antes de terminar a tarefa hercúlea a que se tinha proposto. 
Só quando tudo acabou é que olhou para trás a pensar quanto mais lhe faltaria pela frente.
Sentou-se para jantar descansada e na primeira azeitona que tragou um caroço dobrou-lhe a espinha ao entalar-se onde nem o ar passava. 
Sob signo da asfixia sucumbiu em frente à TV que insistia em ter uma cartomante que falava da sorte e dos milhões de euros que ia distribuir nessa noite. De joelhos, tombou e por engasgamento trivial morreu. 
O cão suspirou de tédio e perante a notícia da morte a família desabafou:
- coitada tinha cancro e era o terceiro."



26 março 2018

Um negócio de Deus | Inês Teotónio Pereira

Um Negócio de Deus
por Inês Teotónio Pereira
no DN, de 24 de Março



Descobri que os filhos são um negócio de Deus e não um assunto dos homens. Não encontro outra explicação. A um dos meus filhos digo-lhe que ele é um presente que Deus me deu e conto-lhe como foi: "Deus disse-me assim: toma lá este para te ajudar com os outros, é um brinde." Se não foi parecia: ele nasceu com caracóis louros e rechonchudo e nos livros que eu tenho de anjos, os anjos têm todos caracóis louros. Se vissem o sorriso dele cada vez que lhe digo isto. "O pior é que foste o quinto, já está tudo feito." Ele ri-se e às vezes cora. Ao mais novo dizemos que nos veio desarrumar a sala: "Foi um vendaval que Deus nos mandou para se divertir." E ele também se ri mas sem vergonha nenhuma. Uma vez escondeu-se num centro comercial e a Terra parou de girar, foram 15 minutos no inferno. "Estava a brincar", explicou ele quando um senhor o puxou debaixo de umas roupas, e estava mesmo. A quantidade de vezes que me aperta a alma quando eles sofrem, sorriem, dormem não é de mim. Ou não é só. É por isso que os filhos são um negócio que Deus faz connosco: toma lá e aprende a amar. Só pode. Eles a nós e nós a eles. É que não faz sentido. Não há nada de justo no amor dos pais pelos filhos e dos filhos pelos pais: não se dá para se receber, dá-se e pronto. Por isso é que são tantas as vezes que nos apetece atirar os nossos filhos pela janela: quando já não temos forças para dar mais. Conheço pessoas, várias, que adotaram crianças portadoras de deficiência e o que me ocorre sempre que penso nelas é a coragem. Quando e como surgiu a decisão, o que os motivou, como é que souberam que conseguiriam, quem lhes disse que iriam conseguir amar? Depois oiço-me a queixar do trabalho que os meus me dão. Coisa mais parva. Mas não, descobri que não é a coragem que conta, é o amor. É a decisão de amar. Aquela coragem vem de um amor qualquer e aquelas crianças são mais um enorme presente de Deus: fazem parte de um negócio valiosíssimo que Deus só faz com santos. Já nós, os comuns mortais, preocupamo-nos com coisas parvas e não em ser santos. Não temos tempo, nem paciência, nem coragem. Eu, pelo menos.

Eu aqui irritada com as notas dos meus filhos, por exemplo. Haverá coisa mais parva do que uma pessoa se chatear profundamente com as notas dos filhos? As notas são apenas notas, toda a gente sabe. Dizemos isto, até acreditamos, mas na prática levamos a escola mais a sério do que os filhos. Às vezes penso que é por ser mais fácil. É mais fácil olhar para as pautas do que para eles. Experimentem conversar com as crianças, com os adolescentes: é complicado, dificílimo. É mais simples reunir com os professores, que, coitados, não têm nada que ver com isto. Mas nós achamos que sim, ou que pelo menos percebem o que nós dizemos. O Papa dizia no outro dia que os miúdos estão fartos de palavras, de discursos, e que aquilo que interessa é o exemplo, mais nada. Eles ouvem tantas coisas, tantas sentenças, juízos, opiniões, considerações sobre as suas vidas e maneiras de ser que as palavras deixaram de lhes fazer sentido. São rumores, não são palavras. Não sentem que eles olham através de nós quando lhes fazemos aqueles discursos sábios sobre a vida e a experiência, o futuro e o trabalho, o mérito e a bondade? Eles olham mesmo. Uma vez fiz um discurso destes e no fim a criança perguntou o que era o jantar. Deixou passar uns instantes, como se estivesse a assimilar a parvoíce toda que eu debitei e no fim: "O que é o jantar?" São o grau zero da credibilidade, estes discursos.

No outro dia jantei ao lado de um pai e de um filho que passaram o tempo inteiro a olhar para o telemóvel e eu para eles para ver se era possível comerem a olhar para o telemóvel. E foi (com pauzinhos). Não se ouviu uma palavra durante todo o jantar, o filho jogava a um jogo e o pai entretinha-se no Facebook. O miúdo deve ter boas notas, pensei, se não têm nada de que falar. Ter boas notas é meio caminho andado para calar e afastar os pais, aprendi. Li num livro a história de um pai que andava preocupado com as notas miseráveis do filho e com o seu desinteresse por tudo. "Vai jantar com ele e não lhe fales das notas nem da escola. Não leves o telemóvel", aconselharam. Foi o que bastou. Falaram até hoje. Aquele meu filho lá de cima - o presente - adora falar e isso facilita tudo. A coisa que ele mais gosta de fazer é de ajudar-me a tirar a loiça da máquina enquanto me pergunta tudo o que lhe passa pela cabeça. Não sei, é raríssimo saber as respostas. Mas ele adora falar: "Já posso falar?", pergunta ele à espera da vez. Os filhos falam, não ouvem - somos nós que devemos ouvir. Ouvem e veem. Mas há paciência? Quase nunca. Lá está, somos o comum dos mortais. Tenho um que me telefona a dizer que vai lanchar: "Olá, é só para dizer que cheguei e vou lanchar." Só isto. Riu-me sempre que ele me telefona porque tenho a certeza de que é Deus a fazer uma piadinha, a gozar comigo enquanto me ensina a amar. Há coisa mais bonita do que isto? "Olá, é só para dizer que cheguei e vou lanchar."

19 março 2018

Educar.


"Educar é dar alguns bons conselhos, poucos para não chatear muito, dar muitos bons exemplos e, principalmente, rezar pelos filhos."

padre JS


19 fevereiro 2018

Begin Again.


I am the father of three children four and under. It is always startling to me, though it shouldn’t be at this stage, how quickly things can spin out of control. A perfectly clean house that took a great deal of effort to tidy up can nearly instantly be destroyed by our children with hardly any effort at all.

Cheerios crunch under my feet as I gaze in stupefied awe at the explosion of food under our one-year old’s high chair. Pieces of Mr. Potato Head are unearthed in my sock drawer. Beds that were neatly made a moment ago are suddenly a tangled mess of blankets and sheets in no time at all. I could go on and on.

It is as if a tornado sweeps through our home on a daily basis. It is the law of entropy experienced in all its brutal and chaotic reality.

Yet, my wife and I both tend to crave order and neatness. We’ve tried, unsuccessfully, to just ignore it and let go. Maybe someday we’ll succeed. But for now we can’t. Each day, the house is nearly destroyed, and each day we begin again the futile task of picking up, wiping down, vacuuming, sweeping, emptying, and organizing. It is a process that will never end—at least, as long as we have children in the house.
Cleaning Your Spiritual House

We are in the midst of the season of Lent, and recently, it struck me how similar our spiritual struggle is to keeping an orderly house. Often, we compare the spiritual life to heroic things like warfare and wrestling and endurance racing. But maybe taking out the trash is a more down to earth comparison.

At any rate, I’ve noticed that, just as a clean house quickly descends into disorder and must be constantly cleaned, so also our souls need constant care and upkeep. We must always be beginning to put them in order again.

We must do this because there is a spiritual law of entropy called sin. We are constantly being pulled away from God by our sinful passions. They literally make war against us, and left unchecked, hinder our journey to our Creator. Our sinful nature—what scripture refers to as the flesh or the old man— acts like gravity that keeps us from ascending to our Father. St. Paul once described sin as a “weight,” and it is an apt metaphor.

Because of our brokenness, there is no such thing as a holding pattern in the spiritual life. The minute you cease advancing, you begin to lose ground. The moment you relax your guard, you will fall back. This side of heaven, we will never truly be free of this reality.
Begin Again

There are days when our children have made such a mess of things that cleaning up seems a hopeless task. My wife and I look at each other and don’t know whether to laugh or cry. Yet, we begin again.

Likewise, in the spiritual life, there are moments when we feel hopeless. Like all our struggling is in vain. We are tempted to give up, thrown in the towel, and take the easy road. But the end of this way is death.

In this life, holiness is found in beginning again and again. It is constant examination and conversion and regeneration of heart. Holiness if found in repentance. And repentance is not merely feeling sorry that you sinned. It is rather a re-turning to God—a thousand times a day if necessary.

If we desire a clean house, we can never stop cleaning. If we desire a pure heart, we must never cease the struggle of conversion and repentance. This is the Christian life. Begin again.