22 fevereiro 2010

Outros tempos...

Bom... na cruzada contra a música de plástico, dei de caras com esta pérola:



É um som daqueles!
Melhor, só o videoclip! eheheh

Também vou passar a usar camisas com padrões psicadélicos!!!

a diferença entre plástico e carne e osso?

gente com idade para ter juízo, a rasgar que nem perdidos:



Deep Purple - Smoke on the water

Mais do bom!!!



Sem consultores de imagem...! (claramente! eheheh)

tá muita bom...

O triunfo da superfície.

Pobre "geração-consola".
Nem os clássicos resistem ao rolo compressor que deixa tudo numa espécie de horizontalidade difusa, pouco funda e aérea. Já nem o fútil "Pop!" faz barulho, não vá causar lesões nos ouvidos!

O rock sai laminado e de arestas rombas, hermeticamente fechado num casulo de plástico, não vá passar alguma mensagem, ou acorde inspirador!

Senão vejam:

The real deal:
(admito que a década de 70 deve ter sido todo um campeonato!!! Reparem no lettering!)



A geração consola:



E outra vez os cotas a rasgar como gente grande na Superbowl: http://www.youtube.com/watch?v=XsSZI5C2S50&feature=related

Tão a ver o ponto? Digam lá se não é verdade? É o triunfo da superficialidade!

Felizmente, há Pontos Negros de luz e Velhos de alma jovem que a Golpes de espada vão lembrando que há vida e música para lá do plástico!
Esses e muitos outros, a lutar por ser mais do que o som misturado para soar bem nos fones do ipod!

Nem tudo está perdido!

Vivam os dias de paz à sombra de Diana!

08 fevereiro 2010

A pobreza muda

Portugal é um país rico com um crescente problema de pobreza. Pior, este surto tem características que o tornam especialmente difícil de combater.

O desenvolvimento eliminou há anos entre nós a velha pobreza, aquela miséria endémica e perene que submergia largas regiões desde sempre. Mas nunca se pode esquecer que a pobreza muda. Nunca vamos conseguir erradicá-la porque, como a violência, desonestidade e doença, surge de novo, em formas diferentes, sempre rejuvenescida. Portugal deixou de ser um país pobre, mas a pobreza permanece.

A maior parte dos pobres sofre a nova versão das antigas carências. Nos bairros de lata das cidades e nas zonas degradadas das aldeias vivem ainda em pobreza as classes mais desfavorecidas. O optimismo progressista, que toma o desenvolvimento como omnipotente e se considera na cabina de controlo da realidade, decretou que a desigualdade ia desaparecer. Mas, sem a fome e a desgraça de outros tempos, ela continua tão persistente e paralisante sempre. Aliás, como um vírus multirresistente, conseguiu absorver os mecanismos que a sociedade montou para a combater. Hoje as pensões mínimas, rendimentos de inserção, subsídios de desemprego são frequentemente formas de mascarar, alimentar e perpetuar a pobreza.

Depois existe a pobreza que o azar cria. Doença, acidente, crise económica, desemprego são consequências inevitáveis da vida humana. Também aqui o optimismo ingénuo fica indignado pela teimosa resistência do acaso que a técnica era suposta ter eliminado há muito. Mas, apesar dos inegáveis efeitos excelentes dos muitos mecanismos de protecção que o desenvolvimento permitiu, da política monetária à segurança social, o mundo continua um local inseguro. A actual crise internacional, gerada no cume da sofisticação civilizacional, é disso prova suficiente.

Finalmente temos aquela pobreza que o próprio desenvolvimento da sociedade impõe. Quebra da família, droga, imigração, exploração, prostituição, solidão são realidades novas ou redefinidas pela modernidade que geram os fenómenos de carência mais paradoxais. Esta é a pobreza que a ideologia da era mediática nem consegue entender. É nestes danos colaterais do progresso que o nosso tempo se vê incapaz de actuar, pois ele é a própria causa da miséria. Finge tratar as situações como equivalentes aos anteriores, mas promove-os ao mesmo tempo que os julga combater.

À medida que Portugal se desenvolve, este terceiro tipo de pobreza vai aumentando. Mas na década perdida do nosso desenvolvimento, a nossa crise estrutural que desaguou na actual crise mundial, foram os dois primeiros tipos que mais subiram. Fizeram-no de forma inesperada, criando surpreendentes dificuldades aos mecanismos de solida- riedade. É verdade que em alguns momentos, como na derrocada da indústria têxtil tradicional em 2005, subiu a pobre-za convencional, que as instituições conhecem bem e para quem foram concebidas as ajudas. Mas nesta recessão desde 2008 as coisas são bastante diferentes.

Boa parte da mi-séria mais recente acontece em famílias que não costumavam ser pobres nem lhes passava pela cabeça cair nessa situação. São pessoas da classe média, que viram os seus empregos nos serviços desaparecer, sem grandes possibilidades de regresso. Teriam hipóteses de trabalhar e organizar a vida, mas só abandonando os sonhos e descendo um degrau na estrutura social. Apesar da crise, há lugares de trabalha-dores não especializados que os imigrantes vieram ocupar aos milhares. Mas pessoas com formação, até superior, nem sabem fazer essa opção. Estão presos numa terrível miséria, por vezes com casa e carro, mas sem comida.

Esta é a mais recente forma, urbana e escolarizada, que adoptou o versátil flagelo da pobreza, e que os mecanismos de solidariedade social, sobretudo na rígida estrutura pública, têm dificuldade em reconhecer, quanto mais apoiar. A pobreza muda e todos os casos são dramáticos. Mas o pior é talvez a pobreza muda, que fica envergonhada e apática perante a desgraça que cai de surpresa.

João César das Neves, in DN 08.02.2010

07 fevereiro 2010

brincar com o fogo e não fugir da queimadura...

Não consigo explicar porque é que não percebo como é que este filme me deixou, depois de o ver.
Fui ingénuo ao pensar que a Juno afinal ia ficar com o bébé. Não me lembrei que só tinha dezasseis anos.
"Só tinha dezasseis anos. O Bleeker é um miúdo. Era pedir demais". É o que me diz a razão...
"Mas secalhar tinha dado". É o que me diz o sonho...
"E quando ela quiser voltar a estar com o filho?" É o que me diz a angústia...
"Esta personagem é capaz de amar. E quando quiser fazê-lo de perto?" É o que me diz o desconforto...
"O filho tem a vida inteira pela frente." É o que me diz a esperança que me aquece...

Tento fazer a paz com o desfecho do filme: penso que fica tudo em aberto e bem entregue durante uns anos; talvez tenha sido o melhor para o bébé; tudo se resolve e a Vida pode acontecer; ela não abortou e por isso ainda estamos em jogo; Ele vai fazendo das Suas, cosendo as pontas soltas.

E depois penso que não há ninguém que defenda que é possível correr bem. Que a ternura pode tornar-se Amor. Que os saltos mortais a que a vida nos chama, são possíveis...
Parece que só com dinheiro e estabilidade (ainda que aparente),é que a coisa pode correr bem.

Dizem-me as vísceras que existe qualquer coisa de transcendente, primitivo, íntimo e definitivo no laço entre mãe e filho. Uma coisa que pode ser esquecida, sufocada e posta de parte, mas que não desaparece...
Parece que esse laço ficou interrompido.
E é por isto que não fico completamente descansado. Quero saber que mais músicas é que cantaram juntos. O nome do filho. Se a Vanessa se safou. Se a vida correu bem a todos... se estão bem e felizes.

Se não entregasse o bébé, também ia ser difícil e muito provavelmente, um caminho duro que poderia não acabar bem. Mas ao menos estavam juntos... mas também podiam acabar afastados...

Acho que só podemos ter esperança e confiar que tudo acabará bem. A Juno não abortou e, por isso, continuamos em jogo... está tudo em aberto... Pode tudo vir a correr bem.

A Juno não abortou... e isso tá muita bom!