26 setembro 2018

Como tinha anunciado pela boca dos profetas.

“O Senhor mostrou o poder do Seu amor, como tinha anunciado pela boca dos profetas.”


O Senhor mostrou.
Deus Nosso Senhor, o Todo-Poderoso, o eterno Senhor de todas as coisas, o Criador do Universo, escolhe mostrar-se. E escolhe mostrar-se a mim, pobre mendigo do altar.
Ele é outra coisa, está noutro plano, mas entra no meu, mete-se nas minhas coisas.
Que maravilha. Que impossibilidade. Que demora interior…
Podíamos ficar por aqui e ficávamos bem.

O poder do Seu amor.
Não é a grandeza da Sua glória, ou a Sua omnipotência ou o senhorio de todo o universo. É o seu Amor que escolhe mostrar. É o seu Amor que está uma e outra vez à minha espera. É o seu Amor que me salva e acalma. Que me sustém e pacifica. É o seu colo que me cura quando caio. É a sua verdade que me liberta. É a sua paciência que espera por mim e a sua caridade que me educa. É a sua graça que me alimenta e faz o meu cálice transbordar.

Como tinha anunciado.
Não somos marionetas nas mãos de um mestre de caprichos. A vida não é um jogo de cabra-cega.
Não é automática nem é sempre fácil mas, não tem de ser às cegas. O bom Deus não está entretido a ver-nos correr à toa.
Ele escolhe profetas e faz-se anunciar. Dá-nos pistas e fortaleza. Anima a nossa esperança e usa a nossa própria vida para nos dar o mapa. Não vamos sozinhos.

Se vivêssemos com isto realmente presente, andaríamos de olhar sempre ligeiramente levantado aos céus e sorriso consolado como quando nos bate o primeiro sol da primavera e começamos finalmente a secar os ossos. Tropeçaríamos nas coisas dos homens, é certo. Mas vale mais o sol que uma nódoa negra.

No fim, depois de tudo, para lá dos enganos e soberbas, quando finalmente sou capaz de ver, é Ele que vejo e é o Seu abraço que me espera.
Ele espera pelos pródigos. Ele espera por mim.



25 setembro 2018

Parte da Solução.


A Europa sempre foi uma manta de retalhos de nações e regiões, cerzidas pela matriz judaico-cristã que unifica toda esta diversidade e forma o primeiro bloco dito ocidental. É deste cadinho que nasceram os "valores ocidentais" - outra conversa será chegar a elencá-los. Mas é fácil reconhecer que há um núcleo partilhado.

Um núcleo partilhado. A força da Europa, do Ideal dos Fundadores, está precisamente nesta unidade na diversidade. Está na decisão soberana que cada nação toma de caminhar em conjunto, As realidades e heranças nacionais, as culturas de cada país, são força e riqueza para a União. Não são um problema.

A União estritamente tecnocrática e democraticamente deficitária, a União feita império burocrático que vemos surgir, está muito aquém do Ideal de União de Nações e Povos. Mais do que isso, e mais grave por isso, tenta fundar uma outra nação, uma outra cultura, uma outra realidade supra-nacional, ao arrepio da própria substância que a compõe.
Todo o projecto humano tem a tentação de racionalizar modelos totais e forçar um todo homogéneo, normalmente em doses de xarope amargo. Não é um "mal europeu". Mas está aí e tem de ser resolvido por todos - não é a bater com a porta que vamos lá. 

Ai de nós se não percebermos que o outro não tem de ser igual a mim para ser meu irmão.
Aprendamos a construir a partir da diversidade, sem convergências abusivas.

Não existe "mais Europa" sem prejuízo da originalidade nacional de cada estado que, mesmo sendo um conceito difícil de fixar e descrever, está presente de forma inequívoca em cada país.

Não existe "mais Europa" porque já somos todos intrinsecamente europeus. A história de cada nação não se escreve sem a história das outras nações, sem o esteio partilhado desse grande épico milenar.

Acabemos de vez com esta maneira de pensar a nossa União, olhando para as culturas e idiossincrasias nacionais como entropias ineficientes no grande modelo total.

A Europa não é outra coisa num plano qualquer que transcende os estados. Tem de ser mais intrínseca, e por isso, mais manta de retalhos e menos chapa de um qualquer material uniforme e banal. 

Caminhar juntos, não quer dizer caminhar iguais.