18 dezembro 2012
14 dezembro 2012
Paquistão: Quatro anos depois, Asia Bibi continua a viver o Natal na prisão.
A esperança é a última a morrer. Este ditado aplica-se bem a Asia Bibi e à sua família, no quarto ano consecutivo em que esta cristã vive a quadra natalícia na cadeia, por causa de uma injusta acusação de blasfémia.
Asiq Mashi, marido de Asia Bibi, encontra-se em Espanha para a cerimónia de entrega, no próximo sábado, dos Prémios HO 2012 – outorgados pela Associação espanhola Hazte Oir –, um dos quais é para Asia Bibi como símbolo da liberdade religiosa.
Mashi, que viajou acompanhado com a sua filha mais velha, Sidra, encara esta viagem como uma oportunidade de dar a conhecer o testemunho de uma família ameaçada pelos inimigos da liberdade religiosa.
Em declarações à imprensa, Asiq Mashi agradeceu o prémio dado a Asia Bibi, sublinhando que este é "o quarto Natal que ela passa no corredor da morte". Porém, acrescentou que não perdeu ainda a "esperança" de a ver em liberdade.
Ignacio Arsuaga, presidente de Hazte Oir, ao receber Mashi no aeroporto, pediu para que o governo da Espanha se possa comprometer numa "acção diplomática sólida para apoiar Asia Bibi e para conseguir espaços de liberdade religiosa em todo o mundo".
"Não é possível – acrescentou - que uma nação como a espanhola não seja capaz de pedir a outros países o mesmo espaço de liberdade que existe em Espanha, especialmente na questão religiosa".
13 dezembro 2012
12 dezembro 2012
11 dezembro 2012
10 dezembro 2012
para lá do plano inclinado: a contra-corrente.
07 dezembro 2012
06 dezembro 2012
05 dezembro 2012
04 dezembro 2012
em frente ao penedo verde, cinco milhas ao largo.
Venho aqui à trinta anos. Aqui neste lugar, em frente ao penedo verde, cinco milhas ao largo. Pesco o meu peixe. Trago o que o mar me deixa trazer. Depois acendo o cachimbo e espero. É assim há trinta anos.
Espero que ele venha enquanto dura o tabaco. Depois volto ao porto. Disseram-me que ele andava com pescadores e saía com eles de madrugada. Que nada lhe era impossível e que éramos bem-aventurados se fizéssemos como ele. E por isso há trinta anos que tento fazer como ele e venho aqui esperar o tempo de um cachimbo. Não é fácil mas, também me disseram que um santo é um pecador que não desiste e que os santos são os amigos dele. Eu quero ser amigo dele. Não sei o que é um pecador mas é parecido com pescador, por isso, devo caber nesse grupo.
Há trinta anos que espero por ele para lhe pedir que me devolva o meu amor. Ou então que me leve com ele. Não me importo. Há trinta anos que espero o tempo de um cachimbo aqui, em frente ao penedo verde, cinco milhas ao largo. Talvez hoje o horizonte se ponha estrelado.
"Porque se o mundo não é como dom Quixote o vê, então mudem o mundo e deixem em paz o mais nobre cavaleiro que alguma vez percorreu o chão de la Mancha."
João Pedro Vala, no essejota.net
28 novembro 2012
She's back!
"Estar à altura do mundo. Actualidade política, moda, culinária, artes e letras.
Poucas coisas podem ser completamente compreendidas, mas quase todas podem ser bem comentadas."
uma coisa a dizer.
uma coisa a dizer.
Protecção de quem?
por Vasco Graça Moura
DN, 28 Novembro, 2012
Toda a gente viu, nos serviços noticiosos de televisão, a horda ululante e desvairada que ao fim da tarde de 14 de Novembro atacou as forças da polícia em frente a São Bento.
A arruaça promovida por essa associação de malfeitores ao longo de mais de uma hora, insultando e agredindo as forças da ordem, praticando danos avultados em bens públicos, causando um tumulto inaceitável e agindo com violência incendiária e criminosa só impunha um tipo de actuação por parte da polícia: varrer aquela canalha selvática desde a primeira agressão e sem quaisquer contemplações.
A PSP optou por esperar pacientemente, talvez tempo demais, sujeitando-se a toda a espécie de vexames até lhe ser mandado que impusesse o respeito da ordem pública. E então agiu e agiu bem, embora pudesse ter agido muito melhor se tivesse ali por perto um carro da água para limpar à mangueirada, depressa e eficazmente, a escadaria do Parlamento e adjacências.
Em qualquer país civilizado, a reacção policial teria sido bem mais dura e expeditiva.
Tratou-se de uma perturbação intencional e muito violenta da ordem pública, da integridade e da segurança de pessoas e bens, levada a cabo no espaço público e à vista de toda a gente por um grupo de facínoras sem escrúpulos.
Essa perturbação foi filmada por operadores de televisão, sem nenhum condicionamento que não fosse a própria natureza tumultuária do que estava a acontecer. Isto é, não há aqui nenhuma espécie de segredo profissional nem parece que a cobertura pela imagem de um facto, criminoso ou não, ocorrido no espaço público, implique a protecção de qualquer espécie de sigilo profissional dos jornalistas intervenientes.
No caso, eles não precisaram de se documentar em fontes mais ou menos discretas. Os factos de agressão e distúrbio a que me refiro não são fontes a cuja protecção sigilosa os jornalistas tenham direito.
As fontes são as fontes. Os factos são os factos. O serviço público precisamente está em documentá-los e, tratando-se de crimes, em ser dada a necessária colaboração por quem dispõe desses documentos às autoridades públicas competentes para identificação dos agressores.
Nem se vê que colha a distinção entre imagens editadas ou não editadas. Se não fosse assim, e quando, por hipótese, um determinado jornalista pretendesse favorecer um bando de criminosos, bastar-lhe-ia editar convenientemente as imagens, suprimindo delas tudo o que permitisse identificá-los e pretextar o sigilo profissional para se escusar a mostrá-las.
É pelo menos bizarro o entendimento da Comissão Nacional de Protecção de Dados, nos casos a que se refere o DN de 24 de Novembro (incidentes de rua a 21 e 29 de Setembro, o primeiro, aquando da reunião do Conselho de Estado, e o segundo, na manifestação da CGTP), refugiando-se em qualificações e objecções ociosas e especiosas que só podem redundar na protecção dos infractores e do crime.
Não é para isso, estou em crer, que a referida comissão existe.
Compreende-se que Miguel Macedo pretenda garantir o acesso da PSP a imagens não editadas, sem margem para quaisquer dúvidas jurídicas. Os formalismos, malabarismos e manobrismos proporcionados por um Direito inconsistente que foi sendo constituído em nome do politicamente correcto e de todas as escapatórias possíveis à assunção de quaisquer responsabilidades sérias levam o ministro da Administração Interna a sentir como necessária a emissão de parecer por parte do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República.
É todavia um excesso de escrúpulo da sua parte. O DN também noticia, a par da opinião que vai no sentido dessa legitimidade, uma outra, segundo a qual "tal procedimento poderá configurar violação do sigilo profissional dos jornalistas".
Naquele "poderá" é que está o centro de gravidade da argumentação capciosa, muito especialmente em se tratando de acesso a imagens colhidas no espaço público, e sem que houvesse ou haja qualquer fonte a proteger... Vive-se um tempo de crise da autoridade e de insegurança crescente.
Há muitos aspectos em que a Justiça em Portugal tem sido uma vergonha.
Bom seria que, pelo menos nalguns, como neste caso, deixasse de o ser rapidamente.
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)
das coisas Catalãs.
no Declínio e Queda.
"A leitura mais frequente dos resultados das eleições na Catalunha, entre nós, é a de que ganhou a frente soberanista ou independentista. Somando os votos da CiU, que ganhou (embora passando de 62 para 50 deputados), da ERC, que ficou em segundo lugar (embora passando de 10 para 21 deputados), e de outros pequenos partidos pró-independência, temos cerca de dois terços dos 135 deputados catalães a favor de uma separação de Espanha.
É verdade, mas há um pormenor relevante de que ninguém fala. Enquanto o Partido Socialista Catalão, tradicionalmente autonomista, desceu de 28 para 20 deputados, o PP ganhou um deputado e, mais do que isso, reforçou muito a sua votação, passando de 387 mil votos em 2010 para 471 mil. Para efeitos de comparação, a ERC teve agora 496 mil votos (219 mil em 2010) e a CiU 1 milhão e 100 mil (1 milhão e 200 mil em 2010). Ou seja, o voto conservador fugiu da CiU para o PP, enquanto a ERC cresceu à custa dos socialistas.
O que representa um aumento da clivagem entre os que querem a independência e os que querem manter as coisas como estão. Ora, um dos factores de sucesso do nacionalismo catalão era o seu discurso moderado e gradualista, garantia de apoio do centro político. Apesar do forte movimento operário e de alguns episódios pouco edificantes na Guerra Civil, repartidos entre anarquistas e vermelhos – a vandalização da catedral da Sagrada Família, por exemplo-, a autonomia catalã foi sempre uma exigência burguesa, não violenta e cosmopolita. Ao contrário do activismo basco, paradoxalmente mais ligado aos extremos (de direita no século XIX, com Sabino Aranda e outros nostálgicos de um Euskadi medieval não contaminado por mouros e castelhanos; de esquerda no século XX, com os republicanos, os católicos progressistas e os marxistas da ETA). Ter uma literatura escrita com quase mil anos também ajudava, além de velhas relações com o Sul de França e as ilhas mediterrânicas (outra diferença em relação aos Bascos, com uma identidade regional mais distinta, mas também mais isolada, ou mais distinta porque mais isolada).
Talvez a clivagem seja apenas conjuntural. Talvez o fenómeno ERC seja apenas como o Syriza na Grécia: um produto da crise. Mas, se não for, a sociedade catalã sai mais dividida da aventura, com um bloco de meio milhão de eleitores a votar no PP, em princípio espanholista, outro meio milhão a votar na esquerda radical, em princípio independentista, e o milhão da CiU no meio, em equilíbrio difícil. A ex-Jugoslávia não está assim tão longe."
Escrita Pop.
por Eduardo Martins. |
Escreve o i que Margarida Debalde Pinto "inventou a escrita pop em Portugal". É verdade. E isto é tudo o que é preciso dizer sobre a essência, ou falta dela, de Margarida Debalde Pinto.
27 novembro 2012
22 novembro 2012
15 novembro 2012
Golo do Henrique Monteiro.
O sôr desculpe, por acaso estava a apedrejar?
Expresso
15/11/2012
Há coisas do arco-da-velha. Uma delas é acreditar que um polícia, depois de hora e meia a levar pedradas, tem discernimento para, durante uma carga, saber quem prevaricou e não prevaricou.
Vamos a factos. Vários energúmenos (que nada tinham a ver com o espírito da manifestação, e já depois de esta ter acabado) começaram a apedrejar polícias em frente ao Parlamento. Vários manifestantes (entre os quais Daniel Oliveira, segundo o próprio relata na sua crónica) pediram insistentemente para não o fazerem, no que não tiveram sucesso e abandonaram o local. Um dirigente do PCP, que se encontrava a dar uma entrevista a uma televisão, condenou o sucedido e disse que ia retirar-se imediatamente daquele sítio, o que fez. Mais de uma hora depois, as pedradas continuavam. Alguns populares (ligados, presumo, à manifestação da CGTP) colocaram-se em frente da polícia tentando demover os delinquentes. De nada serviu, a chuva de pedras continuou. A polícia fez um aviso: retirem-se da praça que vamos carregar. Dois minutos depois repetiu o aviso. Cinco minutos depois, carregou. Quem ainda estava na praça sabia o que ia acontecer.
Bateram em pessoas que jamais tinham atirado uma pedra? É possível. O que não é possível é ser de outra maneira; o que não é possível é durante uma carga, um polícia que esteve sob uma tensão enorme durante horas, indagar e interrogar-se sobre a justeza da sua ação. Isso é lírico.
A polícia cumpriu todas as normas. Mas porque não foi ao meio da manifestação buscar os apedrejadores? Bem, porque era arriscado. E porque as cargas têm de ter aviso, pelo menos nos países democráticos e civilizados.
E, já agora, uma nota final para os ignorantes que comparam estas cargas às que existiam antes do 25 de Abril. Estive em várias e era assim. Um estudante (lembro-me de José Luís Saldanha Sanches, por exemplo) saltava para a escadaria da Faculdade de Direito e discursava contra a guerra colonial. De repente, de trás da reitoria, saía a polícia de choque do célebre capitão Maltez. Às vezes traziam cavalos, mas a maioria das vezes cães. Batiam em quem podiam, sem que nada fosse arremessado contra eles. Sem avisos, sem jornalistas que pudessem presenciar. Acham que há comparação? Não brinquem com coisas sérias!
dos piquetes de greve. (outra vez).
"Regressando do médico, entrámos num daqueles restaurantes populares que abastecem Lisboa à hora de almoço. Como o jogo de futsal já estava na TV, só tivemos de pedir jaquinzinhos e vinho. Entretanto, as mesas do restaurante ficaram repletas de povo. Deve ter sido por isso que um piquete de greve resolveu entrar pelo restaurante adentro aos berros, gesticulando e com cara de mau. Sabem qual é o efeito de um megafone dentro de quatro paredes? Não é bonito, é como ter os No Name Boys a fazer uma serenata mesmo junto aos tímpanos. Não, não foi bonito assistir à agressividade daquele piquete de greve. Cinco ou seis raparigas (entre os 20 e o 30) com os olhos embaciados pelo ódio do PCP começaram a insultar os empregados e clientes do restaurante. Naqueles dois minutos, a vanguarda do "Povo" nunca escondeu o ódio por aqueles que não tinham aderido à greve, nunca escondeu a raiva contra aqueles que não estavam nem aí para a sua jornada de luta. Ou seja, as meninas fizeram questão de mostrar o desrespeito que sentem pelas pessoas que pensam de outra forma. Na TV e nos jornais, os grevistas falam muito do "Povo", mas aquele piquete em concreto só conseguiu trocar palavras azedas com um povo em concreto, e a sua má-educação e arrogância acabaram escorraçadas por pessoas concretas. O concreto é lixado.
Às vezes, invento homens e mulheres de palha. Não é necessário."
Encontrado primeiro no Complexidade e Contradição.
Mais sobre os piquetes de greve aqui.
Brincar à Grécia.
Ontem aconteceu uma coisa esquisita, mais ou menos parecida com comprar t-shirts do Che, boinas do Mao e fumar ganzas em tertúlias pseudo-culturais mas, desta vez com pedras, caras disfarçadas e um bocado mais de rebuliço. Depois a PSP decidiu acabar com a festa porque já chegava de parque-infantil.
O resultado disto é que para chegar a casa, eu e tantos outros atravessámos uma espécie de exposição de rua intiludada Traços da Revolução em Curso ou qualquer coisa assim: caixotes e ecopontos queimados, os habituais símbolos dos porcos capitalistas vandalizados, cacos de garrafas partidas, calçadas descarnadas e postes no chão.
Não posso deixar de agradecer à vanguarda pela sua defesa dos meus interesses, pela sua batalha pela minha liberdade. Acho que os funcionários da Carris que tiveram de ir limpar os carris do eléctrico que estavam cheios de plástico derretido às tantas da noite também vos querem agradecer muito. Ó se querem!
Viva o amanhecer anarca! Fuck the system man!
PS: Queria só pedir aos arruaceiros estrangeiros que participam dessa diáspora da tribo da revolução, que fossem atirar pedras e partir janelas para a terra deles.
PS2: Ontem também aconteceu uma manifestação da CGTP. Segundo o secretário Arménio Carlos, foi uma das maiores de sempre, aliás, como todas as outras.
14 novembro 2012
Fresh Pimba :: o novo fenómeno da música portuguesa.
não percebo porque é que as mulheres ainda se queixam de machismo...
13 novembro 2012
da Liberdade e outros monopólios.
"[...]
Eu disse que ambos o fizeram com evidente sucesso e só agora reparo que esta frase é um pleonasmo. Bastaria ter dito: ambos o fizeram. Porque Loff e os compagnons de route podiam ter escrito uma História de Portugal alternativa, mas não o fizeram. Preferiram atacar Rui Ramos em dois mil caracteres. E os críticos de Isabel Jonet podiam fundar uma organização de solidariedade politicamente correcta, mas não o fizeram. Preferiram uma petição na internet.
Talvez não se possa pedir mais aos pigmeus da indignação, mas Rui Ramos e Isabel Jonet merecem um agradecimento: alargaram o nosso espaço de liberdade. Nem a história nem a cidadania têm donos. Embora alguns pensem que sim."
Pedro Picoito, no Declínio e Queda.
Delícias no Contra Mundum.
"A tax is a terrible hairy liberal monster with big teeth!
The only thing that can stop the terrible tax monster is a republican.
Who wants to be a republican?"
Keaton na série Family Ties, no Contra Mundum.
12 novembro 2012
11 novembro 2012
Devíamos aprender com estes senhores a guardar memória.
In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.
We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved and were loved, and now we lie
In Flanders fields.
Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields.
John McRae (1919)
09 novembro 2012
do Aborto.
A discussão sobre o aborto só é honesta quando se tenta concluir sobre:
- é uma vida?
- se sim, tem os mesmos direitos que eu, que sou adulto na plena posse das minhas capacidades?
O primeiro ponto é o mais tricky. É insustentável dizer que só é vida a partir de algum ponto depois da fecundação. Tudo o que acontece depois, são estágios de desenvolvimento. Aquele ovo fecundado nunca vai dar um elefante, é ovo de ser humano.
A partir daqui, é jogo de cintura para inventar janelas de oportunidade para um "aborto justo".
No segundo ponto, trata-se de assumir uma escolha sobre qual vai ser o valor que fala mais alto. O da vida do bébé ou o da vida absoluta liberdade de escolha da mãe.
A discussão a sério, é assim de crua.
Uma pessoa honesta e que defenda o aborto, diz: são sempre vidas humanas, mas sobre algumas eu decido se vivem ou não.
Qualquer deriva suavizante é igual a dizer que um escravo não é um ser humano e por isso eu posso escravizá-lo.
Isabel Jonet, as palavras e os atos. [o Expresso segue o acordo ortográfico].
por Henrique Monteiro
no Expresso de hoje.
"A presidente do Banco Alimentar deu umas opiniões, anteontem à noite, na SIC Notícias. Ontem, durante todo o dia, foi simbolicamente queimada na fogueira das redes sociais; hoje segue o auto-de-fé em alguns jornais. Salvo algumas boas almas (de esquerda e de direita) que a tentaram compreender, o veredicto foi unânime: ela disse o que não se pode dizer.
Na sociedade atual, como no tempo da Inquisição, todos temos de andar com um credo na boca. Tal como o credo católico, também este se baseia em crenças e não em factos!
E o que disse Isabel Jonet? Enfim, disse o que pensa e isso hoje pode ser quase um crime.
Tanto bastou para os arautos do politicamente correto se porem em ação. Uns escreveram que não dão nem mais um quilo de arroz enquanto ela for presidente do Banco Alimentar; outros exigiram a sua demissão (da instituição privada que ela própria fundou); uma série deles acusou-a de insultar os pobres (embora os próprios não sejam pobres sabem quando os pobres se sentem insultados) e um movimento ameaça-a de não sei o quê.
A obra de Isabel Jonet fala por si. Mas há uma certa categoria de gente para quem o importante são palavras. Para quem os pobres não são pessoas reais, com qualidades e defeitos, mas categorias político-filosóficas abstratas. Claro que nenhum daqueles que critica violentamente Isabel Jonet terá feito um centésimo do que ela fez no combate à pobreza e à fome em concreto. Mas a pessoas assim não interessam obras nem atos concretos. Apenas ideias e palavras.
E vivem iludidos com palavras a vida toda."
da polémica Jonet.
Notícia de última hora! É oficial, o país enloqueceu. Um pouco por todo o lado, dos jornais aos blogues, rebentam pequenos AVC's retóricos em suporte digital. Devem ser restos de descargas da adrenalina de terem seguido as eleições norte-americanas. Com sorte até se esquecem que vem cá a Srª. Merkel, a quem devíamos realmente prestar atenção.
08 novembro 2012
Golo na Voz do Deserto.
Golo inteligente na construção e bem escrito, abre a porta para algumas subtilezas da política norte-americana e as opções nada subtis que se tomam, com mais ou menos consciência, quando se escolhe um ou outro candidato.
Estamos em campos opostos. A voz que fala no deserto diz que eu acredito no mesmo Deus que ele mas, acha que eu O atravanquei num arrumo algures no Vaticano para poder ir brincar às hierarquias e às indulgências e perfumar tudo com incenso. Eu digo que a voz acredita no mesmo Deus que eu mas, acho que chega de birras e protestos e que está na hora de voltar a casa. Isto é uma caricatura. Os dois achamos que a Igreja Mórmon é herética e "que acredita que há a divindade que é uma versão contrabandeada do cristianismo". Isto não é uma caricatura.
Mais do que isto, que é mais ou menos divertido, é o ponto fulcral onde me junto ao Tiago Guillul - não reconhecer a natureza maligna do aborto levanta questões sérias sobre o discernimento ético de um político. A resolução que daí tiro e que já tinha para mim, também, antes da eleição é que isso é suficiente para saber que não poderia nunca votar em Obama e que não diz absolutamente nada sobre se votaria em Romney. Provavelmente não votaria em nenhum deles.
Um cheirinho:
"3. Deixa-me perplexo a leveza de alguns amigos que conheço junto de mim contra o aborto elogiarem Obama sem sequer uma palavra quanto ao assunto. Correndo o risco de poder ser injusto, creio que é em casos destes que se distingue alguém que realmente olha para o aborto como uma monstruosidade. Simplificando muito a minha tese: se és capaz de votar em Obama, believe me, não és assim tão contra o aborto."
"3. Deixa-me perplexo a leveza de alguns amigos que conheço junto de mim contra o aborto elogiarem Obama sem sequer uma palavra quanto ao assunto. Correndo o risco de poder ser injusto, creio que é em casos destes que se distingue alguém que realmente olha para o aborto como uma monstruosidade. Simplificando muito a minha tese: se és capaz de votar em Obama, believe me, não és assim tão contra o aborto."
PS: Despediram o António Marujo do Público?! Mais um capítulo da morte anunciada de uma organização que antigamente era profissional e séria.
07 novembro 2012
Michelle, Michelle...
"This cynical ploy is designed to intimidate a group of physicians and force them to drop their lawsuit seeking to have the so-called partial birth abortion ban ruled unconstitutional."
Quando vamos ver o que significa "partial birth abortion", a coisa fica para lá de clara...
06 novembro 2012
Repor a verdade.
por Pedro Lomba
Público, 06.11.2012
"Na semana passada a Gulbenkian acolheu a conferência Portugal e o Holocausto patrocinada, ao que sei, pela Embaixada dos Estados Unidos. Lendo os jornais, apercebi-me que saíram da conferência declarações estranhas. Mas nenhuma ultrapassou em desaforo histórico o que foi dito pelo embaixador de Israel, segundo o qual Portugal "foi o único país que colocou a sua bandeira em meia haste durante três dias", logo que Hitler morreu. E o embaixador de Israel acrescentou: "É uma nódoa que para nós, judeus, vai aparecer sempre associada a Portugal."
Tenho demasiado respeito e simpatia por Israel para deixar passar estas afirmações sem resposta, até porque aparentemente ninguém na própria conferência reagiu. Fui, pois, investigar. E escutar quem investigou. Ora, o sr. embaixador de Israel não sabe, não considerou que os demais Estados neutros europeus na guerra procederam como Portugal. Vejamos a imprensa da época:
No Diário de Lisboa de 3 de Maio de 1945 refere-se que "continuaram a meia haste as bandeiras da Nunciatura Apostólica, da Embaixada de Espanha e das Legações da Suíça e da Suécia". Em Dublin, o mesmo luto protocolar conduziu o primeiro-ministro (e ministro dos Estrangeiros) Éamon de Valera a apresentar condolências à legação alemã. Como pode o sr. embaixador afirmar que Portugal "foi o único com a bandeira em meia haste", quando a prática foi comum aos outros Estados neutrais?
Mas compare-se o luto protocolar do Estado português perante a morte de Roosevelt e o que se registou com a de Hitler. Quando Roosevelt morreu, Salazar deslocou-se pessoalmente à embaixada americana para apresentação de condolências. A propósito dos regulamentos protocolares, lê-se no recente livro do embaixador Bernardo Futsher Pereira sobre a diplomacia salazarista (p. 436): "Neste mundo convulso, Portugal permanecia a mesma plácida ilha de paz. As minudências jurídicas protocolares continuavam a ser rigidamente observadas. A 4 de Maio, quando correu a notícia da morte de Hitler, as bandeiras foram colocadas a meia haste. Quando o embaixador inglês protestou no dia seguinte, Teixeira de Sampaio argumentou que, fosse ou não fosse Hitler o maior criminoso da História, continuava mesmo assim a ser o chefe de Estado de um país com o qual Portugal mantinha relações diplomáticas. Os regulamentos prescreviam uma salva de artilharia e uma visita pessoal de condolências pelo Chefe do Estado ou seu representante. Tudo isso tinha sido eliminado e as formalidades reduzidas a deixar cartões e pôr as bandeiras a meia haste."
Não terá o sr. embaixador omitido o contraste entre a postura de Portugal aquando da morte do Presidente americano e os "serviços mínimos" verificados na morte de Hitler? Não sou historiador e não me pronuncio sobre Portugal na II Guerra. Mas dir-se-á que quer Portugal quer a Irlanda agiram, não por qualquer afinidade com o regime nazi, mas no respeito pelo formalismo protocolar inerente à neutralidade, numa lógica de "correcção diplomática" e de afirmação soberana.
Custa ter de fazer este reparo ao representante de Israel entre nós. Mas a acusação que fez é factualmente errada, é injusta e ignora o cânone protocolar. A 22 de Dezembro de 2011, a Assembleia Geral da ONU cumpriu um minuto de silêncio pela morte do ditador norte-coreano Kim Jong Il, mas esclarecendo à partida que se tratava de um acto protocolar. Foi uma nódoa que mancha Israel e os restantes membros? Ou foi apenas diplomacia as usual, de que o sr. embaixador aqui se esqueceu?"
05 novembro 2012
Da porta para o sofá.
Naquela noite despediram-se como tantas vezes tinham feito, da porta para o sofá. Um até amanhã que era mais um até logo: "até amanhã; até amanhã se Deus quiser". Nessa noite Deus quis diferente.
Quando o viu outra vez, o filho passou a rematar com "se Deus quiser" e um sinal da cruz na testa do pai, que com um leve piscar do olho e um quase imperceptível mexer das linhas em torno dos lábios a desenhar um sorriso, retribui a deixa. O que acontecia de fugida, da porta para o sofá, toma agora o seu devido tempo à cabeceira da cama.
Há quase trinta anos que pai e filho se cruzavam e viam quase todos os dias, e o filho nunca tinha visto o pai, pelo menos daquela maneira inteira de quem presta atenção. Nunca tinha olhado para ver. Percebeu isto na primeira visita que lhe fez. O pai já não podia falar. Tinha-lhe escapado, na confusão do acidente, essa coisa sublime que nos foi dada e que é pensar e dizer...
Acidente... uma vida inteira de avarias de carro e de mota, de curvas a direito disparadas da anca e às costas de um palpite de que não vinha ninguém e foi sentado no sofá a ver as notícias depois do jantar que teve um... "acidente".
Foi enquanto se demorava nestas coisas que desarmam a lógica por não a ter, que o filho percebeu que o pai agora se exprime de outra maneira. Todas as rugas e cada linha, o brilho de um olho que sabe o que vê e os traços burilados ao estilo de uma vida entregue são quem agora diz as coisas. A linguagem é diferente e é preciso aprender outra vez esse novo dialecto que implica conhecer o pai em 3D.
Como é que se faz? Como é que se distingue um gesto porque lhe apetece de um que quer significar? É um jeito novo que o pai agora usa, e que precisa que se esteja e permaneça, e que se vá ficando para ver desenrolar à nossa frente o engenho de quem diz com tudo menos as cordas de falar. É como ressuscitar, e nós com ele. Um jeito que obriga a olhar para ver.
não tenho, nem quero...
Não tenho de pagar a Fundação Saramago.
por Henrique Raposo, Expresso, 30 Outubro 2012.
Somos Povo de Rio.
no Essejota de 01.11.2012
secção Ouvir uma música.
Toda a gente precisa de uma bandeira. Todos queremos pertencer a alguma coisa. Todos queremos saber-nos queridos. Todos queremos importar e ser relevantes, ter um papel e um lugar. Todos precisamos de poder dizer - estes são os meus. Até a pessoa mais anti-tudo-o-resto precisa desse resto, dessas outras pessoas que querem e dizem e fazem e pensam as outras coisas todas.
secção Ouvir uma música.
Toda a gente precisa de uma bandeira. Todos queremos pertencer a alguma coisa. Todos queremos saber-nos queridos. Todos queremos importar e ser relevantes, ter um papel e um lugar. Todos precisamos de poder dizer - estes são os meus. Até a pessoa mais anti-tudo-o-resto precisa desse resto, dessas outras pessoas que querem e dizem e fazem e pensam as outras coisas todas.
Só que nós somos povo de rio, e povo de rio vive na corrente, e a corrente pegou na originalidade livre e individual de cada um e fez disso coisa absoluta. Interessa o “eu” e a procura individual da realização pessoal que mais se adequa a mim. Importa o indivíduo e, de resto, cada um sabe de si. Se houver um problema é suposto o sistema resolver, ou não é para isso que pago impostos? Cada qual com a sua verdade, porque, afinal, todos temos direito a ser felizes, e quem é cada um para opinar sobre as coisas de cada outro? Cada qual na sua caixinha eficiente, higiénica e educada onde cada um optimiza as suas condições de bem-estar que, entretanto, por pragmatismos egoístas, passou a ser sinónimo de felicidade. Mas, e desculpem martelar a imagem, povo de rio aburguesado dura pouco em tempo de cheias, se acha que pode tudo sozinho. Não estou a fazer a apologia da comunidade acima de tudo o resto. Estou a falar da sobrevivência da Pessoa, que é muito mais que o indivíduo. E é pelo resgate da Pessoa livre e original que tens de remar contra a corrente.
Abre os olhos, povo de rio. Escuta que arde no sangue e na mente a vontade primordial do mais íntimo âmago que nos foi dado ter: a sede e desejo de encontro; a explosiva vontade de ser com os outros.
Não somos auto-suficientes. O nosso não é um sistema fechado. Eu preciso de ti e aqueles de mim, e nós todos uns dos outros. Somos povo de rio, de trocas e viagens. Tirem o indivíduo do pedestal e dêem-lhe o que ele anseia ter: outro original à frente dele; um reflexo; outra lasca do mesmo tronco; alguém a quem dizer que é; alguém que queira que ele seja isso ou outra coisa. Deixemos o individualismo que isso nunca trouxe Paz a ninguém.
Abre os olhos, povo de rio, e rema!
I was raised up believing I was somehow unique
Like a snowflake distinct among snowflakes, unique in each way you can see
And now after some thinking, I'd say I'd rather be
A functioning cog in some great machinery serving something beyond me
But I don't, I don't know what that will be
I'll get back to you someday soon you will see
What's my name, what's my station, oh, just tell me what I should do
I don't need to be kind to the armies of night that would do such injustice to you
Or bow down and be grateful and say "sure, take all that you see"
To the men who move only in dimly-lit halls and determine my future for me
And I don't, I don't know who to believe
I'll get back to you someday soon you will see
If I know only one thing, it's that everything that I see
Of the world outside is so inconceivable often I barely can speak
Yeah I'm tongue-tied and dizzy and I can't keep it to myself
What good is it to sing helplessness blues, why should I wait for anyone else?
And I know, I know you will keep me on the shelf
I'll come back to you someday soon myself
If I had an orchard, I'd work till I'm raw
If I had an orchard, I'd work till I'm sore
And you would wait tables and soon run the store
Gold hair in the sunlight, my light in the dawn
If I had an orchard, I'd work till I'm sore
If I had an orchard, I'd work till I'm sore
Someday I'll be like the man on the screen
02 novembro 2012
Golo do Vasco Cordovil Cardoso.
"Há ainda um perigo associado à ideia por trás da expressão “ter uma relação com Deus”. O perigo consiste em inserirmos, sem mais nem menos, Deus no campo das nossas relações. O problema não está em relacionarmo-nos com Ele, como é claro, mas em reduzir a nossa fé a um mero “relacionamento”, a um "in a relationship" facebookiano. Parece que ficámos presos naquela muito bonita, mas também infantil expressão: “Jesus é o meu melhor amigo”. E qual é o problema? O problema é que em vez de nos apresentarmos livres perante Deus, perante aquele que queremos que assalte as nossas vidas, estamos meticulosa e cuidadosamente a tratar com mais um “amigo” que não queremos que nos magoe ou atordoe. Em vez de procurarmos conhecer Deus na sua Revelação em Jesus com a ajuda dos ensinamentos Igreja, das Escrituras e da oração, achamos que bastam apenas uma ocasionais “conversas” mais ou menos distraídas. Em vez de lutarmos cada dia pela Sua maior presença nas nossas vidas, ficamos aborrecidos e desmoralizados quando vislumbramos algum tipo de distância."
O texto completo no Essejota.net
01 novembro 2012
31 outubro 2012
O medo de verdade.
por Miguel Esteves Cardoso.
Público 31.10.12
"Há uma imagem que me dá pesadelos e que me assusta tanto que me custa olhar para ela: é o Perro Semihundido, de Goya. Evite vê-lo, se puder.
O medo é uma coisa fácil de mostrar mas difícil de fixar. O cão semiafogado de Goya, à beira de morrer afogado, tem os olhos abertos a olhar para a massa de água que o vai matar.
Os cães têm medo muitas vezes. Mas este sabe que vai morrer. É este o último momento de vida: a vida suficiente para saber ter medo do que lhe vai acontecer.
Na noite das bruxas brinca-se com os sustos. Os sustos não dão tempo para ter medo. Para ter medo é preciso tempo. É preciso um momento parado, como aquele durante um acidente violento de automóvel, em que o tempo, por crueldade, se alenta, para que possamos contemplar o horror que aí vem, que já não pode ser evitado, que parece fazer render o já ser tarde de mais para fazer qualquer coisa.
Quando se tem mesmo medo, não se consegue fechar os olhos. O cão de Goya tem os olhos bem abertos. É o único ser vivo. O resto são coisas brutas que não sabem o que fazem, que nem o prazer de matar têm.
Há muitas interpretações do mural de Goya mas nem sequer interessa se o cão está à beira da morte, seja por afogamento, seja por outra razão. O que importa é a aflição de quem olha para a cabeça daquele cão e imediatamente a reconhece. É por isso que faz medo: não ameaça nem assusta. Declara uma condição que um dia será a nossa, mas de que já temos medo desde que nascemos."
30 outubro 2012
And he scores!!! o hat-trick de Humberto Brito.
"Não é claro que a “fuga de cérebros” possa ser resolvida de modo jurídico-laboral, nem que possa ser travada com dinheiro. Aumentar o número de bolseiros de investigação por metro quadrado e funcionalizá-los não significa que as cabeças relevantes irão permanecer no país, a não ser por comodidade e, vá, amenidade de clima. Aquilo que fixa o género de cérebros que nos importa manter — e aliás atrair para o país — não é somente as condições de estabilidade de carreira (que afinal existem, bem mais atractivas, noutros lugares), mas a existência de uma comunidade intelectual estimulante. Atirar dinheiro para as universidades não é condição suficiente para que tal se estabeleça num país, muito menos num país pequeno."
Encontrado aqui.
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