01 junho 2012

Catequese e Ortodoxia.

por Simão Lucas Pires

"Somos rápidos a condenar o excesso de zelo, o farisaísmo de quem só vê regras à frente. Mas não deveríamos ser igualmente resistentes à atitude contrária? São Paulo, na Carta aos Romanos, diz com toda a clareza: a fé em Jesus confirma a Lei. E, no entanto, à vigilância a que a Lei e a Doutrina da Igreja nos chamam preferimos muitas vezes os ideais de uma religião vaga, de cujas premissas acerca de um Deus bom e de uma promessa de felicidade tiramos as conclusões que nos dá na gana tirar. Pode ser uma tentação apetecível adaptar o cristianismo à minha visão pessoal do mundo, mas é um erro pensar que desse modo sou mais livre e estou mais perto da verdade.

João Paulo II, na introdução à encíclica Veritatis Splendor, fala na importância desta relação entre liberdade e verdade. Para nós, católicos, a liberdade não é o bar aberto das paixões. É a capacidade sagrada de aderir à verdade e ao bem. O problema é que eu sou pequeno demais, fraco demais, cego demais para perceber sozinho onde é que a verdade e o bem andam. O encontro com Jesus, através da confiança, da oração, do conhecimento do Evangelho e do sacramento da Eucaristia, deve ser o motor do que faço; mas, para que esse desejo de configurar a minha vontade com a Dele seja cada vez mais perfeito, há coisas concretas que preciso ver esclarecidas. A doutrina da Igreja e a voz do seu Magistério têm a esse respeito um papel fundamental. Como é que, com a minha namorada, eu sou o que Jesus quer? O que é que se passa realmente na Missa, naquela série de palavras e gestos a que assisto e a que presto assentimento? O que é a salvação eterna, o que é o inferno? Acreditamos que a verdadeira resposta a estas e outras perguntas é a que nos dá o Magistério da Igreja, porque acreditamos numa coisa extraordinária: acreditamos que os bispos são os sucessores dos Apóstolos. É frequente a obediência ser vista como inimiga da liberdade; a obediência à Igreja, porém, no que diz respeito às exigências morais e ao significado dos ritos, é a forma mais plena de liberdade - porque a autoridade à qual obedecemos, nas figura dos bispos e do Papa, é uma autoridade derivada de Cristo e da Sua presença na Igreja. Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

A aceitação da Doutrina da Igreja e o conhecimento aprofundado do que nela está em causa é o seguimento natural da fé em Jesus. É importante, por isso, regressar à catequese. Recusar a tendência de transformar a prática cristã num debate de estilos, em que uns são mais "conservadores" e outros mais "liberais", e aprender, de facto, o significado e o peso dos conteúdos ligados à fé. É importante conhecer o que a Igreja diz sobre a liturgia, sobre a oração, sobre os sacramentos, sobre a moral. Não por obsessão moralista ou nerdismo religioso. Por amor a Deus, que por amor deu ao seu povo a Igreja como guia e inspirou a palavra dela para que se tornasse uma arma da justiça aqui na terra. Sem catequese, afastados da ortodoxia, corremos o risco de cair na armadilha do humanismo, na armadilha da naturalização da religião; na armadilha de pensar que sou eu a medida das coisas, que tudo vale em função da minha opinião e da experiência psicológica que faço disso. A humildade a que somos chamados tem também que ver com isto. Pois Cristo é a resposta aos problemas do homem, mas o cristianismo não é um programa de auto-ajuda: é o nosso caminho de regresso a casa. E ninguém conhece melhor esse caminho do que aqueles em quem Deus confiou para serem nossos guias. Há coisas muito simples que posso fazer para saber mais sobre a minha própria fé. Os sacerdotes, em primeiro lugar, estão aí para satisfazer a nossa sede de verdade. E o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, por exemplo, é um livro simples que não custa mais do que cinco euros e cabe no bolso das calças de qualquer pessoa.

Na Missa, chegada a altura do Credo, a assembleia dos fiéis protagoniza em conjunto um momento incrivelmente belo e poderoso - um momento em que, pela palavra, os contornos da própria vida são alargados. Uma das coisas que então proclamamos é a crença na Igreja, na sua santidade e no seu carácter apostólico. Que eu saiba pôr nessa verdade de fé o meu coração inteiro."

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