...o "iluminado homem-novo" não pode! |
30 dezembro 2011
A necessidade de Deus (e de Cristo).
por Henrique Raposo
Expresso, 29/12/2011
"O ar do tempo acha que é completamente independente do cristianismo. O ar do tempo está errado. Mesmo que não acredite no mistério pascal (como eu o percebo), mesmo que não seja um cristão de fé, o cidadão ali da rua é um cristão cultural, educado numa cultura de direitos que só cresceu na civilização judaico-cristã. Tal como defende Nicholas Wolterstorff, os tais "direitos inalienáveis" (a base ética e constitucional das nossas vidinhas) têm uma raiz bíblica . Por outras palavras, o Direito Natural precisa de uma base religiosa, precisa de uma comunicação com a transcendência divina. Porquê? A resposta não é simples, mas aqui vai: sem uma noção de transcendência, sem algo que nos liberte da prisão do aqui-e-agora, o poder político fica com as portas abertas para limitar os direitos inalienáveis dos indivíduos. Não por acaso, os regimes totalitários do século XX anularam por completo qualquer noção de transcendência, destruíram qualquer noção ética com origem em algo exterior à lei positiva determinada pelo chefão. O fascismo e o comunismo foram tiranias da imanência.
Muitos autores contemporâneos, como Alain Dershowitz, defendem um conceito de Direito Natural secular, sem qualquer apelo a Deus. Mas isso é o mesmo que ser do Benfica e gostar do Pinto da Costa ao mesmo tempo . Um Direito Natural completamente secularizado é uma contradição em termos, porque não tem uma gota de transcendência. Quando dizemos que cada indivíduo tem direitos inalienáveis que nenhum poder terreno pode pôr em causa, quando dizemos que cada pessoa tem direitos inalienáveis que nenhum direito positivo pode rasgar, estamos - na verdade - a dar um salto de fé em direcção a uma concepção de amor ao próximo, um concepção de amor que transcende a imanência da lei, da cultura e do nosso próprio corpo (i.e., Deus).
Portanto, convém perceber que a ideia de direitos inalienáveis não foi inventada de raiz pelo pensamento iluminista do século XVIII ou pelo optimismo científico e individualista do século XIX. Esta ideia já fazia parte do património bíblico. Neste sentido, a tese de Wolterstorff não é descabida: sem esta raiz cristã, a nossa cultura de direitos não teria sido desenvolvida. Os críticos desta tese poderão invocar Kant para a defesa de um Direito Natural absolutamente secular, mas ficarão sempre expostos a um ataque óbvio: Kant cresceu numa cultura cristã e não noutra qualquer; Kant não apareceu no paganismo indiano ou chinês. Não por acaso, Nietzsche dizia que Kant era um cristão manhoso, um cristão que inventou uma teoria secular de direitos apenas para fugir da questão de Deus e da fé.
Moral da história? Durante muito tempo, pensei que Kant chegava para as despesas do Direito Natural. Mas não chega."
28 dezembro 2011
da Guerra que ia acabar com todas as guerras.
Nenhuma guerra faz sentido.
As razões ficam lá bem longe quando rebenta a primeira bomba, quando se crava entre as costelas a primeira baioneta ou aperta a primeira garganta. Quando espirra na cara o sangue do primeiro sacrifício. Quando morre o primeiro filho e chora a primeira mãe.
De todas as outras, a primeira mundial é a que mais desarma.
Atrito-orgia de sangue e carnificina. Lento massacre, demorado. Doutrinas estúpidas e irrilevantes para lidar com os novos artefactos da morte. Recrutamento massivo das populações. Produção alarve e sôfrega de mais e mais armas à espera de entrar na fornalha desse inferno entricheirado. Guerra industrial. Milhões de baixas em batalhas de poucos meses. Tudo por esse marginal pedaço de terra de ninguém que cedo será devolvido.
O Homem contra si mesmo, inexoravelmente. Compressão lenta e opressiva. Pasta de sangue e lama, e medo, e mijo e choro.
22 dezembro 2011
21 dezembro 2011
20 dezembro 2011
16 dezembro 2011
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