27 setembro 2010
22 setembro 2010
OK GO - White Knuckles
enquanto o comboio passa,
pare, escute e olhe,
sinta, veja e oiça.
ganhe tempo!
tá muita bom!!!
as rampas, as cores, os cães, a ideia (!!!), a música!
estes gajos são os reis dos videoclips!
21 setembro 2010
17 setembro 2010
O país afunda-se mas o circo não pára
Público 2010.09.17
Público 2010.09.17
José Manuel Fernandes, jornalista
Roteiro de duas semanas de volta ao país irreal de Sócrates de inauguração em inauguração.
Roteiro de duas semanas de volta ao país irreal de Sócrates de inauguração em inauguração.
"No dia 28 de Agosto, um sábado, José Sócrates inaugurou um pedaço de estrada de 14 quilómetros. Entre Oleiros e Proença-a-Nova. Esses quilometrozitos, disse, serão muito importantes "para o dinamismo económico e para a segurança rodoviária"...
Três dias depois, a 31 de Agosto, foi à inauguração de um jardim-de-infância num hipermercado Jumbo. Quem pagou foi o grupo privado, mas Sócrates gabou-se de ter chamado a atenção "para a necessidade de se resolver o problema crónico da falta de investimento em creches".
No dia seguinte voltou a uma creche, desta vez em Torres Vedras. A instituição era de uma IPSS, e não do Estado, mas o primeiro-ministro foi lá para falar "dos desafios do Estado social moderno", falando em "investimento do Governo" quando este nem chegou a cobrir um terço dos custos. De resto, das 342 creches abertas entre 2004 e 2008 só duas são públicas, as restantes ou são privadas, ou pertencem a IPSS. De Torres Vedras o primeiro-ministro saiu a correr para a Líbia, onde foi o convidado de honra de Kadhafi nas cerimónias do 41.º aniversário do regime, onde esteve sempre ao lado do ditador, partilhando o mesmo automóvel.
A 3 de Setembro foi a vez de ir a Braga, agora para inaugurar um hotel. Aproveitou para falar da "recuperação da economia". Já o dia 4 foi dia de comício. O local escolhido foi um jardim público em Matosinhos que, de acordo com os moradores, estava pronto há vários meses mas estivera fechado com um gradeamento que só desapareceu para montar o palco de Sócrates.
Dia 7 voltou a um jardim-de-infância, desta feita em Lisboa, para celebrar "um feito": Portugal aparecer no relatório da OCDE sobre Educação com uma taxa de cobertura do pré-escolar superior à média. Mas não comentou o resto do relatório da OCDE, que não era nada favorável a Portugal e ao que cá se fez nos últimos anos.
A 8 de Setembro Sócrates trocou o pré-escolar pelo ensino bási- co e foi até Paredes inaugurar um centro escolar. O tema foi o encerramento de escolas do básico, um processo que celebrou de forma tão entusiasmada que, ao ser confrontado com os conflitos com algumas autarquias e as obras atrasadas, sentenciou: "Não estou preocupado com excepções."
A 9 de Setembro escolheu Alverca onde, talvez inspirado pelos fumos das fábricas, falou sobre cursos profissionais.
Depois, a 10 de Setembro, regressou à Escola Secundária de Pedro Nunes, onde já tinha estado em 2008 e 2009, mas parece haver sempre coisas novas para ver. Foi lá que anunciou cem-inaugurações-cem de escolas para o 5 de Outubro, invocando a aposta da República na Educação. Só que essa aposta foi sobretudo retórica, tendo-se traduzido num enorme fiasco: entre 1911 e 1930 a percentagem de analfabetos baixou apenas sete pontos percentuais (de 75 para 68 por cento) enquanto, nos dez anos seguintes de Estado Novo, baixaria mais de oito pontos (de 68 para menos de 60 por cento).
No dia 13 rumou ao Funchal - um amor recente -, onde fez companhia a Alberto João Jardim na abertura do Ano Académico da Universidade da Madeira. No dia seguinte já estava no Porto, no Instituto Superior de Engenharia, onde foi surpreendido pelos estudantes, que lhe entregaram uma medalha "por fazer com que Portugal seja o país da Europa onde as famílias mais gastam com educação".
Este frenesim e esta sucessão de banalidades ditadas para a comunicação social é todo um estilo de governação. Todos os dias tem de haver um evento para consumo para garantir uns minutos no telejornal, naquilo a que já chamaram os "momentos Chavez" de Sócrates, traduzindo uma forma de fazer política onde tudo é espectáculo e acções de propaganda, alimentadas por citações de estatísticas à la carte, onde tudo visa centrar sobre o "líder" e sobre o seu país irreal a atenção da comunicação social. Ao mesmo tempo instala-se o diálogo e faz-se da fuga em frente uma forma de evitar governar e, sobretudo, de se ser confrontado com os limites e os desastres da governação.
Até porque, entretanto, há um país teimosamente real. Nestas semanas ficámos a saber que Portugal caiu mais três lugares no índice de competitividade do Fórum Económico Mundial (já recuamos 18 lugares desde que Sócrates é primeiro-ministro) e caiu outros dois lugares no ranking dos melhores países para fazer negócios da revista Forbes. São dois indicadores preocupantes de como estamos a perder a corrida e de como nos será cada vez mais difícil sair da crise. Pelo que não surpreende que as previsões revistas da Comissão Europeia confirmem a anemia portuguesa: em 2010, o crescimento na UE foi revisto em alta, para 1,8 por cento, mas o português deverá ficar abaixo de um por cento. Pior: enquanto no segundo trimestre o emprego na União Europeia recuou 0,6 por cento, em Portugal caiu 1,5 por cento, permitindo que no final de Julho tivéssemos a quarta mais elevada taxa de desemprego de toda a OCDE.
Entretanto, a despesa pública continua a aumentar, como se estivéssemos numa nave de loucos. O país endivida-se ao ritmo de 2,5 milhões de euros por hora, os juros estão em máximos históricos e crescem os rumores de que o FMI já está à porta.
Numa situação destas, o que o país devia estar a discutir, com seriedade, era se no Orçamento de 2011 a redução do défice se fará por mais subidas de impostos ou pela redução da despesa, pois isso não é indiferente para a saúde da economia, mas todos se entretêm em jogos florais sobre o destino de uma negociação que tem de existir - o Governo é minoritário -, mas que ainda nem sequer começou. Sendo que, como escreveu esta semana Vítor Bento, ao estar a "dramatizar a não aprovação do novo Orçamento" está-se "a enviesar o processo negocial" e a aceitar a chantagem de quem não recebeu dos portugueses mandato para governar sozinho.
Em Portugal nunca se aprende nada. E o que mais aflige é como o país saltita, tal como uma barata tonta, de "caso" em "caso", sem sequer perceber a irrealidade do mundo que o primeiro-ministro lhe procura apresentar no seu corrupio de inauguração em inauguração. É que se há um ano nos apresentaram uma narrativa política (sobre a irrelevância do endividamento do país face à importância dos investimentos públicos, por exemplo) que se revelou totalmente falsa mal passaram as eleições, agora criaram outra narrativa irreal (a de que é mantendo tudo como está que se salva o Estado social) e ainda há quem lhes dê o benefício da dúvida. Mesmo depois de ouvir a ministra da Cultura dizer o contrário ao avisar que "o Estado social encontrou o seu limite"...
Nas óperas-bufas ainda sorrimos - neste país-bufo já só rangemos os dentes."
Três dias depois, a 31 de Agosto, foi à inauguração de um jardim-de-infância num hipermercado Jumbo. Quem pagou foi o grupo privado, mas Sócrates gabou-se de ter chamado a atenção "para a necessidade de se resolver o problema crónico da falta de investimento em creches".
No dia seguinte voltou a uma creche, desta vez em Torres Vedras. A instituição era de uma IPSS, e não do Estado, mas o primeiro-ministro foi lá para falar "dos desafios do Estado social moderno", falando em "investimento do Governo" quando este nem chegou a cobrir um terço dos custos. De resto, das 342 creches abertas entre 2004 e 2008 só duas são públicas, as restantes ou são privadas, ou pertencem a IPSS. De Torres Vedras o primeiro-ministro saiu a correr para a Líbia, onde foi o convidado de honra de Kadhafi nas cerimónias do 41.º aniversário do regime, onde esteve sempre ao lado do ditador, partilhando o mesmo automóvel.
A 3 de Setembro foi a vez de ir a Braga, agora para inaugurar um hotel. Aproveitou para falar da "recuperação da economia". Já o dia 4 foi dia de comício. O local escolhido foi um jardim público em Matosinhos que, de acordo com os moradores, estava pronto há vários meses mas estivera fechado com um gradeamento que só desapareceu para montar o palco de Sócrates.
Dia 7 voltou a um jardim-de-infância, desta feita em Lisboa, para celebrar "um feito": Portugal aparecer no relatório da OCDE sobre Educação com uma taxa de cobertura do pré-escolar superior à média. Mas não comentou o resto do relatório da OCDE, que não era nada favorável a Portugal e ao que cá se fez nos últimos anos.
A 8 de Setembro Sócrates trocou o pré-escolar pelo ensino bási- co e foi até Paredes inaugurar um centro escolar. O tema foi o encerramento de escolas do básico, um processo que celebrou de forma tão entusiasmada que, ao ser confrontado com os conflitos com algumas autarquias e as obras atrasadas, sentenciou: "Não estou preocupado com excepções."
A 9 de Setembro escolheu Alverca onde, talvez inspirado pelos fumos das fábricas, falou sobre cursos profissionais.
Depois, a 10 de Setembro, regressou à Escola Secundária de Pedro Nunes, onde já tinha estado em 2008 e 2009, mas parece haver sempre coisas novas para ver. Foi lá que anunciou cem-inaugurações-cem de escolas para o 5 de Outubro, invocando a aposta da República na Educação. Só que essa aposta foi sobretudo retórica, tendo-se traduzido num enorme fiasco: entre 1911 e 1930 a percentagem de analfabetos baixou apenas sete pontos percentuais (de 75 para 68 por cento) enquanto, nos dez anos seguintes de Estado Novo, baixaria mais de oito pontos (de 68 para menos de 60 por cento).
No dia 13 rumou ao Funchal - um amor recente -, onde fez companhia a Alberto João Jardim na abertura do Ano Académico da Universidade da Madeira. No dia seguinte já estava no Porto, no Instituto Superior de Engenharia, onde foi surpreendido pelos estudantes, que lhe entregaram uma medalha "por fazer com que Portugal seja o país da Europa onde as famílias mais gastam com educação".
Este frenesim e esta sucessão de banalidades ditadas para a comunicação social é todo um estilo de governação. Todos os dias tem de haver um evento para consumo para garantir uns minutos no telejornal, naquilo a que já chamaram os "momentos Chavez" de Sócrates, traduzindo uma forma de fazer política onde tudo é espectáculo e acções de propaganda, alimentadas por citações de estatísticas à la carte, onde tudo visa centrar sobre o "líder" e sobre o seu país irreal a atenção da comunicação social. Ao mesmo tempo instala-se o diálogo e faz-se da fuga em frente uma forma de evitar governar e, sobretudo, de se ser confrontado com os limites e os desastres da governação.
Até porque, entretanto, há um país teimosamente real. Nestas semanas ficámos a saber que Portugal caiu mais três lugares no índice de competitividade do Fórum Económico Mundial (já recuamos 18 lugares desde que Sócrates é primeiro-ministro) e caiu outros dois lugares no ranking dos melhores países para fazer negócios da revista Forbes. São dois indicadores preocupantes de como estamos a perder a corrida e de como nos será cada vez mais difícil sair da crise. Pelo que não surpreende que as previsões revistas da Comissão Europeia confirmem a anemia portuguesa: em 2010, o crescimento na UE foi revisto em alta, para 1,8 por cento, mas o português deverá ficar abaixo de um por cento. Pior: enquanto no segundo trimestre o emprego na União Europeia recuou 0,6 por cento, em Portugal caiu 1,5 por cento, permitindo que no final de Julho tivéssemos a quarta mais elevada taxa de desemprego de toda a OCDE.
Entretanto, a despesa pública continua a aumentar, como se estivéssemos numa nave de loucos. O país endivida-se ao ritmo de 2,5 milhões de euros por hora, os juros estão em máximos históricos e crescem os rumores de que o FMI já está à porta.
Numa situação destas, o que o país devia estar a discutir, com seriedade, era se no Orçamento de 2011 a redução do défice se fará por mais subidas de impostos ou pela redução da despesa, pois isso não é indiferente para a saúde da economia, mas todos se entretêm em jogos florais sobre o destino de uma negociação que tem de existir - o Governo é minoritário -, mas que ainda nem sequer começou. Sendo que, como escreveu esta semana Vítor Bento, ao estar a "dramatizar a não aprovação do novo Orçamento" está-se "a enviesar o processo negocial" e a aceitar a chantagem de quem não recebeu dos portugueses mandato para governar sozinho.
Em Portugal nunca se aprende nada. E o que mais aflige é como o país saltita, tal como uma barata tonta, de "caso" em "caso", sem sequer perceber a irrealidade do mundo que o primeiro-ministro lhe procura apresentar no seu corrupio de inauguração em inauguração. É que se há um ano nos apresentaram uma narrativa política (sobre a irrelevância do endividamento do país face à importância dos investimentos públicos, por exemplo) que se revelou totalmente falsa mal passaram as eleições, agora criaram outra narrativa irreal (a de que é mantendo tudo como está que se salva o Estado social) e ainda há quem lhes dê o benefício da dúvida. Mesmo depois de ouvir a ministra da Cultura dizer o contrário ao avisar que "o Estado social encontrou o seu limite"...
Nas óperas-bufas ainda sorrimos - neste país-bufo já só rangemos os dentes."
16 setembro 2010
14 setembro 2010
O que é que vem aí?
Repressão Sexual
in Público, 2010-09-14 Pedro Lomba, jurista
"Um dos confortos de ser educado em Portugal até há muito pouco tempo era não receber doses sistemáticas e programadas de educação moral ou sexual na escola. Era a vantagem e a liberdade de não cairmos nas mãos de um qualquer catequismo, sujeitos à orientação superior de burocracias e ministérios. No caso do sexo, a abstinência foi particularmente bem-vinda, porque nos permitiu ir descobrindo a coisa com um misto de curiosidade, prazer e ignorância.
Antes assim. Nem os nossos pais, que têm poderes que não tem o Estado, libertários só no papel, se atreveram a quebrar excessivamente essa regra. Para o bem de todos, souberam conter-se. Não que transformassem o sexo num acto terrífico. Acontece que também não faziam dele um tema livre. Não há aqui receio, soluções perfeitas. Mas esta até que nem funcionou mal.
Por isso encaro o início deste ano escolar com suspeição. Não irei apregoar catástrofes e fico-me pela suspeição. O novo ano lectivo torna a educação sexual obrigatória nas escolas. Os novos jovens terão aquilo a que a maioria de nós foi poupada: um tutor sexual ensinando conteúdos específicos para os diferentes ciclos de ensino. Já circulam kits sortidos para a pedagogia. No PÚBLICO de domingo abria-se um pouco o livro sobre o que pode ser esta educação. "Educação para a sexualidade e para os afectos", diz uma coordenadora. Mas isso é dizer nada. É também como diz a lei que menciona o objectivo de "valorizar a sexualidade e afectividade entre as pessoas no desenvolvimento individual, respeitando o pluralismo das concepções existentes na sociedade portuguesa". Se se chega a este ponto de ter de respeitar o "pluralismo das concepções da sociedade portuguesa" (que pluralismo?), é caso para pensar que esta nova disciplina será tudo menos inócua. Mas será o quê?
Estive a viajar na Holanda este Verão por motivos variados. Na Holanda, como se sabe, muita coisa é livre e o sexo também é livre. O modelo de educação sexual dos holandeses deve ser o mais ambicioso e explicativo do mundo. Então encontrámos rapazes de nove anos que aprendem num programa de desenhos animados sobre como devem masturbar-se; outros que recebem pénis desenhados em cadernos para colorir; uma rapariga de 12 que está a conhecer as posições sexuais do catálogo; e outro, já adolescente, que explicava a um jornalista (lido no Times) que "o sexo anal dói no princípio mas se persistirmos pode ser bastante agradável".
A Holanda é a vários títulos um país admirável. E tem uma taxa de gravidez adolescente que impressiona, embora os especialistas relacionem o facto mais com a estabilidade dos casais do que com a educação sexual. No entanto, com toda esta educação afirmativa para a sexualidade, digo-vos que nunca conheci sociedade mais assexuada do que a Holanda. O sexo é tão chato na Holanda, tão sem risco ou imoralidade, que não admira que as pessoas pensem noutras coisas e programem a vida íntima como uma lista de compras. As holandesas marcam na agenda os dias da semana em que têm intercurso com os maridos. Os maridos preparam-se para o ritual como para uma disciplina. Os holandeses esmeraram-se em tornar o sexo educável. No caminho também mataram metade da piada.
Millôr Fernandes, o genial humorista brasileiro, octogenário sexogenário, bem avisava: "A educação sexual vai transformar o sexo num negócio tão chato que as pessoas vão preferir chupar um Chicabom na porta do Bob"s." E concluía: "Educação sexual é apenas uma outra forma de repressão".
Que há negócios que temos preferencialmente de descobrir por nós próprios, antes de qualquer educação formal e selectiva sobre elas, não me parece digno de grandes polémicas. Faz parte da construção normal da individualidade e da moralidade. Sem o direito de posse absoluta sobre as experiências íntimas de cada um, o mundo seria um lugar de susto. Seria até um lugar repressivo. Não nos roubem isso, ó educadores sexuais do meu país."
"Um dos confortos de ser educado em Portugal até há muito pouco tempo era não receber doses sistemáticas e programadas de educação moral ou sexual na escola. Era a vantagem e a liberdade de não cairmos nas mãos de um qualquer catequismo, sujeitos à orientação superior de burocracias e ministérios. No caso do sexo, a abstinência foi particularmente bem-vinda, porque nos permitiu ir descobrindo a coisa com um misto de curiosidade, prazer e ignorância.
Antes assim. Nem os nossos pais, que têm poderes que não tem o Estado, libertários só no papel, se atreveram a quebrar excessivamente essa regra. Para o bem de todos, souberam conter-se. Não que transformassem o sexo num acto terrífico. Acontece que também não faziam dele um tema livre. Não há aqui receio, soluções perfeitas. Mas esta até que nem funcionou mal.
Por isso encaro o início deste ano escolar com suspeição. Não irei apregoar catástrofes e fico-me pela suspeição. O novo ano lectivo torna a educação sexual obrigatória nas escolas. Os novos jovens terão aquilo a que a maioria de nós foi poupada: um tutor sexual ensinando conteúdos específicos para os diferentes ciclos de ensino. Já circulam kits sortidos para a pedagogia. No PÚBLICO de domingo abria-se um pouco o livro sobre o que pode ser esta educação. "Educação para a sexualidade e para os afectos", diz uma coordenadora. Mas isso é dizer nada. É também como diz a lei que menciona o objectivo de "valorizar a sexualidade e afectividade entre as pessoas no desenvolvimento individual, respeitando o pluralismo das concepções existentes na sociedade portuguesa". Se se chega a este ponto de ter de respeitar o "pluralismo das concepções da sociedade portuguesa" (que pluralismo?), é caso para pensar que esta nova disciplina será tudo menos inócua. Mas será o quê?
Estive a viajar na Holanda este Verão por motivos variados. Na Holanda, como se sabe, muita coisa é livre e o sexo também é livre. O modelo de educação sexual dos holandeses deve ser o mais ambicioso e explicativo do mundo. Então encontrámos rapazes de nove anos que aprendem num programa de desenhos animados sobre como devem masturbar-se; outros que recebem pénis desenhados em cadernos para colorir; uma rapariga de 12 que está a conhecer as posições sexuais do catálogo; e outro, já adolescente, que explicava a um jornalista (lido no Times) que "o sexo anal dói no princípio mas se persistirmos pode ser bastante agradável".
A Holanda é a vários títulos um país admirável. E tem uma taxa de gravidez adolescente que impressiona, embora os especialistas relacionem o facto mais com a estabilidade dos casais do que com a educação sexual. No entanto, com toda esta educação afirmativa para a sexualidade, digo-vos que nunca conheci sociedade mais assexuada do que a Holanda. O sexo é tão chato na Holanda, tão sem risco ou imoralidade, que não admira que as pessoas pensem noutras coisas e programem a vida íntima como uma lista de compras. As holandesas marcam na agenda os dias da semana em que têm intercurso com os maridos. Os maridos preparam-se para o ritual como para uma disciplina. Os holandeses esmeraram-se em tornar o sexo educável. No caminho também mataram metade da piada.
Millôr Fernandes, o genial humorista brasileiro, octogenário sexogenário, bem avisava: "A educação sexual vai transformar o sexo num negócio tão chato que as pessoas vão preferir chupar um Chicabom na porta do Bob"s." E concluía: "Educação sexual é apenas uma outra forma de repressão".
Que há negócios que temos preferencialmente de descobrir por nós próprios, antes de qualquer educação formal e selectiva sobre elas, não me parece digno de grandes polémicas. Faz parte da construção normal da individualidade e da moralidade. Sem o direito de posse absoluta sobre as experiências íntimas de cada um, o mundo seria um lugar de susto. Seria até um lugar repressivo. Não nos roubem isso, ó educadores sexuais do meu país."
10 setembro 2010
09 setembro 2010
08 setembro 2010
The XX - VCR
enquanto o comboio passa,
pare, escute e olhe.
sinta, veja e oiça,
ganhe tempo!
Nota do autor para o eventual leitor: lá porque passam muitos comboios, isto não virou apeadeiro perdido e fosco, hein?! Até que vão acontecendo coisas interessantes na vida do autor.
Bem haja! Volte sempre!
03 setembro 2010
Little Joy - No One's Better Sake"
enquanto o comboio passa,
pare, escute e olhe.
sinta, veja e oiça.
ganhe tempo!
02 setembro 2010
Cortar na despesa
"A mais infame das expressões políticas em Portugal é: "a despesa do estado é incompressível". Quando o Sector Público prevê cortar este ano mais de 81 mil milhões de euros, quase metade do PIB, como pode ser impossível cortar?
A situação nacional é grave, mas tem a grande vantagem de ser simples de explicar. As últimas décadas criaram uma enxurrada de direitos, serviços, obras, exigências, garantias, benefícios. Gerações de políticos congratularam-se por acumular mais uma benesse para este ou aquele.
Nunca explicavam como se pagava. Cada uma era pequena e justificável; a totalidade é a ruína do Orçamento, que aumentou 60% em termos reais em 15 anos. Só se foi pagando porque a dívida cresceu, enquanto as sucessivas subidas de impostos, que nada resolviam, estrangulavam a economia. Agora, assustados pela crise, os credores internacionais perderam a paciência.
Não vale a pena fingir ou criar encenações. A solução não exige rever a Constituição, espiolhar o Orçamento, substituir o Governo. É só necessário um pouco de coragem e sentido de Estado. Depois há que conceber um programa sério, geral e responsável de redução equilibrada de benefícios (salários, pensões, subsídios, apoios, obras e serviços), procurando manter a justiça mas cortando a sério a estrutura e tendência da despesa.
O FMI faz isso de borla. Não vale a pena dramatizar nem exagerar o sacrifício. A despesa só é incompressível se o poder político for mole."
João César das Neves, 01/09/2010
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