A discussão sobre o aborto só é honesta quando se tenta concluir sobre:
- é uma vida?
- se sim, tem os mesmos direitos que eu, que sou adulto na plena posse das minhas capacidades?
O primeiro ponto é o mais tricky. É insustentável dizer que só é vida a partir de algum ponto depois da fecundação. Tudo o que acontece depois, são estágios de desenvolvimento. Aquele ovo fecundado nunca vai dar um elefante, é ovo de ser humano.
A partir daqui, é jogo de cintura para inventar janelas de oportunidade para um "aborto justo".
No segundo ponto, trata-se de assumir uma escolha sobre qual vai ser o valor que fala mais alto. O da vida do bébé ou o da vida absoluta liberdade de escolha da mãe.
A discussão a sério, é assim de crua.
Uma pessoa honesta e que defenda o aborto, diz: são sempre vidas humanas, mas sobre algumas eu decido se vivem ou não.
Qualquer deriva suavizante é igual a dizer que um escravo não é um ser humano e por isso eu posso escravizá-lo.
2 comentários:
Negativo. Quando cortas o cabelo estás a eliminar "vida". Quando cortas as unhas, também. Ancorar este tema na palavra "vida" é um erro.
Nos EUA e no Canadá o debate está ancorado na palavra "personhood", o que a meu ver é muito mais correcto.
um cabelo, uma unha, um espermatezóide ou um óvulo não conduzem, sozinhos, a uma vida humana. Por isso, não vejo a dificuldade em falar em vida. Até a prefiro. Usar personhood,ser pessoa traduzindo à bruta, parece levantar a possibilidade de que pode existir vida humana que não é pessoa, dissociando as duas coisas.
Esta noção parece-me errada porque se trata, no fundo, de uma gradação de relevância ou dignidade, dos direitos que esta vida humana tem e que direitos tem aquela. Trata-se de definir uma hierarquia de vidas humanas. Um mongolóide, autista, surdo-mudo e paraplégico é menos pessoa que tu ou eu? E um bébé em gestação?
Vida Humana é Vida Humana. Tem sempre a mesma dignidade. Vida Humana é sempre Pessoa Humana.
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