28 setembro 2011

Inventar(iar) as roças de São Tomé e Príncipe.


“Inventar(iar) as roças de São Tomé e Príncipe” é uma exposição itinerante de arquitectura que percorre as antigas estruturas agrárias de cacau e café que nos séc. XIX–XX estiveram na base do desenvolvimento territorial, patrimonial e económico desta pequena colónia portuguesa. Estruturada sob os momentos: “conhecer; compreender e percorrer” as roças de São Tomé, recorre a diagramas, fotografias e modelos tridimensionais para dar a conhecer não apenas a sua organização, programas e tipologias mas sobretudo a sua memória, herança e identidade. Irá integrar no presente ano a VI Bienal de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe, dedicada ao tema Património, tendo como objectivo reflectir e encontrar medidas de requalificação do seu património cultural e histórico que levem à consequente valorização de um modelo ímpar no panorama do património agrícola mundial. A exposição surge como continuidade ao trabalho de inventariação e investigação iniciado pelos Arquitectos Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade no ano de 2007.

27 setembro 2011

Um Estado que proíbe a cruz na parede também não é neutro.

Entrevista de António Marujo a Joseph Weiler
in Público, 2011-09-27


Judeu convicto, especialista em Direito Constitucional, Joseph Weiler defendeu perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos o direito de a Itália ter crucifixos nas paredes das escolas e o direito da França a não os ter. E diz que esse pluralismo europeu é que é bom. Ganhou por 15-2.

Tinha acabado cinco horas de aulas, pediu apenas um prato de batatas fritas, que foi petiscando enquanto conversava. Joseph Weiler, nascido em 1951, é um judeu convicto. O que não o impediu de defender a possibilidade de haver (ou não) crucifixos nas paredes das escolas. Virou a opinião do tribunal, dos anteriores 17 a favor de retirar os símbolos religiosos da parede, para uns claríssimos 15 contra. Apenas dois juízes mantiveram a decisão anterior. E adverte: nem a Itália nem a França são neutros em matéria religiosa. Mas ambos devem educar para o pluralismo.

Especialista em Direito Constitucional europeu, Weiler é professor da Católica Global School of Law, da Universidade Católica Portuguesa, e, por isso, vem a Portugal várias vezes por ano. Tem publicado Uma Europa Cristã (ed. Princípia). E publicará, até final do ano, um livro sobre o processo que condenou Jesus à morte. Nele defende que "o sentido de justiça, na civilização ocidental, provém do julgamento de Jesus", explica ao P2. O Papa disse, no seu último livro, que os judeus não foram responsáveis pela morte de Jesus. Weiler, judeu, irá dizer o contrário. E explicar porquê.

21 setembro 2011

vígilia da vitória.

e quando a onda vem,
você vai superar.
o que é que ela tem, 
se é do mesmo mar?

nem só de doutores vive a Cidade.

"[...] o capital humano não se adquire apenas na escola.  Adquire-se viajando , lendo livros, frequentando museus, aprendendo os códigos institucionais das empresas através da permanência num posto de trabalho, aprendendo os segredos de uma profissão, e de muitas outras e diversas maneiras. [...] É evidente que a educação formal representará sempre uma parte do capital humano disponível em cada sociedade e economia, mas não há razões para acreditar numa simples relação mecânica entre mais educação e mais capital humano. E este não pode ser subsumido no conceito de educação formal ou escolar.
[...] Em suma, não é seguro que o crescimento da educação seja a receita mágica para o aumento da produtividade da economia. Muitas outras condições são essenciais para o efeito.

in AMARAL, Luciano; "Economia Portuguesa - As Últimas Décadas",Capítulo II - Crescimento Económico; Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2010

15 setembro 2011

Cátedra do Umbigo.

obtido no ma-schamba
Idiossincrasia: "característica de comportamento própria de um grupo ou de uma pessoa; temperamento", in diccionário Porto-Editora

Ou se quiserem, uma idiossincrasia é uma espécie de cátedra do umbigo. É uma ideia concebida na nossa cabeça. Uma determinada concepção do mundo que não é necessariamente próxima da realidade. O tuga tem duas: a de que "alguém tem de vir endireitar isto, por isso é só esperar"; e a de que "lá fora é que é!".

Já vamos em boa hora de acordar. O estado não é avó nem o cidadão neto mimado. A troika não é babysitter nem me parece que traga um biberon milagreiro. Não traz de certeza um daqueles biberons-poço-sem-fundo.

A cidade não será construída por uma espécie de mordomo-salvífico que vai aparecer lá naquele monte ao som do canto da águia. A cidade está em cada um e torna-se comunidade na medida em que todos saírmos à rua de cabeça erguida para trilharmos os caminhos individuais que nos esperam, com o que temos e o que nos falta. É assim que se forjam as grandes nações.

Por isso senhoras e senhores, lamentamos informar, mas D.Sebastião, Deus o tenha, já morreu. Ficou lá nas areias de Quibir, com as espadas dos reis antepassados. Que tal pôr esse bum-bum a mexer?!

falam, falam, falam...


[...] Ao mesmo tempo cabe perguntar se não apresentam [os diagnósticos e soluções para o mau desempenho da economia portuguesa na última década], um caderno de encargos demasiado vasto e, por isso mesmo, impossível de concretizar. Por um lado parecem exigir a Portugal que realizem o melhor de todos os mundos: como se o país devesse possuir a administração pública escandinava, a indústria automóvel alemã, a indústria têxtil italiana, o mercado de trabalho holandês ou a I&D (Investigação e Desenvolvimento) americana. A verdade é que a Itália não possui a administração pública escandinava, a Alemanha não possui o mercado de trabalho holandês e que a Holanda não possui a I&D americana. E também é verdade que a administração pública portuguesa é mais eficaz do que a italiana, que o mercado de trabalho português é menos rígido que o alemão e que a conflitualidade judicial é menor que nos Estados Unidos.
[...]
Um problema adicional do tipo de explicações de que estamos a falar é disparar em todas as direcções, sem hierarquizar prioridades.


in AMARAL, Luciano; "Economia Portuguesa - As Últimas Décadas",Capítulo II - Crescimento Económico; Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2010



08 setembro 2011

TIME

as 4553 capas da revista TIME '23-'09
Esta revista produz um certo fascínio. Pelo impacto que teve, pelo actual que se mantém, por ser possível contar uma história do século XX indo de capa em capa.
Esta revista mudou a maneira como se fazem revistas. Inventou um estilo de escrever artigos, inventou uma maneira de desenhar capas que se tornaram ícones. É uma powerhouse de jornalismo de qualidade.
Esta revista foi fundada em 1923 por Briton Hadden e Henry Luce, os dois com 25 anos.

06 setembro 2011

sobre os novos totalitarismos.


Uma polícia do pensamento?
Sol-on-line 5 de Setembro, 2011
por José António Saraiva

"Abri o meu email e não queria acreditar: estava positivamente inundado de correspondência enviada por pessoas que eu não conhecia, insultando-me pela crónica Dois Maridos, publicada neste espaço há 15 dias.
A correspondência dividia-se em três categorias.

Os emails mais benévolos continham lições de moral, considerando o dito artigo homofóbico e contrário à igualdade entre os seres humanos. E uma leitora até dizia que o texto era «racista» e que incitava à «violência sobre as mulheres». Extraordinário!

Havia, depois, os emails simplesmente insultuosos, quase sempre com amplo recurso a palavrões, chegando a desejar-me a infelicidade e a morte – a mim e aos meus familiares!

Um terceiro grupo era composto por emails sem qualquer texto escrito – e que, no espaço destinado ao Assunto, tinham uma referência depreciativa: «Vergonhoso», «Atrasado mental», etc.

Havia finalmente um, endereçado por um jornalista estrangeiro, que me ameaçava com a Justiça internacional e uma eventual pena de prisão!

‘Só me faltava esta’, pensei eu, que já fui julgado umas 100 vezes por alegado abuso de liberdade de imprensa e passo a vida nos tribunais e nas secções de Justiça a prestar declarações.

Percebi, entretanto, que uma comunidade gay tinha feito circular o texto entre os seus membros, com o pedido expresso de enviarem ao autor um email ofensivo. E no Facebook circulava um abaixo-assinado incitando a um boicote activo ao SOL e ao seu director, que tinha cerca de 1.000 adesões.

Ora qual fora o meu crime, para suscitar tamanho repúdio e ataques tão violentos e grosseiros?

Basicamente, manifestar-me contra o casamento gay.

Numa crónica que eu pretendi que fosse ligeira e descontraída, ilustrada por uma imagem do filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, comentava-se a suposta cena de violência conjugal entre o ex-deputado do PSD Jorge Nuno de Sá e Carlos Marcano, referiam-se as dificuldades semânticas que um casamento gay levanta (por exemplo, numa relação entre dois homens devemos chamar ‘maridos’ a ambos?) e reafirmava-se a ideia de que a palavra ‘casamento’ deveria ser reservada à união entre um homem e uma mulher, ou seja, ao acto fundador de uma família.

Não era um texto pesado nem doutrinário, e muito menos radical. O desacordo relativamente ao casamento gay não é uma posição original e, até mais ver, é legítima. Ou não será? Já não existe o direito de discordar da lei que admitiu a extensão da palavra ‘casamento’ à união entre dois homens ou duas mulheres?

Enchi-me de paciência e decidi responder personalizadamente a cada um dos emails. Entendi que era meu dever enviar uma palavra directa a todos que me tinham escrito, mesmo os mais grosseiros. Levei uma noite inteira a fazê-lo, e as minhas respostas agrupavam-se em três categorias.

Aos que não escreveram texto nenhum, e apenas preencheram o espaço do Assunto, agradeci o facto de se darem ao trabalho de me escrever mesmo sem terem nada para dizer.

Aos que me insultavam com palavrões ou me desejavam a morte expliquei que os insultos dizem muito sobre quem os profere – mas não dizem absolutamente nada sobre o destinatário. Ora os autores dessas mensagens tinham deixado uma péssima imagem de si próprios.

Aos que me davam lições de moral – acrescentando invariavelmente que aquele texto não devia ter sido publicado – procurei explicar-lhes o que significa a palavra ‘tolerância’. Informei-os que publico semanalmente no SOL diversos textos com opiniões contrárias às minhas, já tendo publicado artigos a defender o casamento gay. E interpelei-os directamente: «Se o leitor estivesse agora no meu lugar, publicaria o meu texto?». Esta pergunta é sempre, nestas polémicas, a pedra de toque. É ela que separa os tolerantes dos intolerantes, os democratas dos fundamentalistas.

Finalmente, expliquei ao jornalista estrangeiro que em Portugal houve censura durante 50 anos, que agora vivemos em democracia – e que o SOL é um jornal plural, que respeita a liberdade de opinião e a diversidade de pontos de vista.

Não percebo por que razão a homossexualidade tende a tornar-se um tema tabu, que não pode ser discutido e sobre o qual não é permitido opinar.

Não percebo – e não aceito. Nunca me verguei às conveniências e ao politicamente correcto – e não seria agora que o começaria a fazer. Sou totalmente contra o casamento gay, já expliquei detalhadamente porquê e reivindico o direito de ter opinião sobre este assunto e de a expressar. Será que alguns querem instituir uma nova Polícia do Pensamento? Querem reacender-se as fogueiras da Inquisição?

Hoje, em Portugal, escreve-se sobre tudo: sobre a liberalização de todas as drogas, sobre a eutanásia, sobre as vantagens das centrais nucleares, sobre a legitimidade do aborto, até sobre a reposição da pena de morte – e não se pode contestar o casamento gay? Porquê? Com base em quê?

Há muitos anos o meu pai, já em ruptura com o PCP, escreveu no Diário de Lisboa um longo artigo sobre África que incomodou os comunistas. Respondeu-lhe um jornalista chamado António Rego Chaves, militante ou simpatizante comunista, que acabava assim o seu texto: «Senhor doutor, deixe-nos em paz!».

Numa admirável resposta, o meu pai dizia-lhe o seguinte: «Faço-lhe a justiça de pensar que, ao tomar a iniciativa de comentar o meu artigo, a sua paz irreversivelmente acabou». Tinha razão. Uns tempos depois este jornalista afastar-se-ia do PCP.

A todos os que me atacaram, mesmo aos mais agressivos, aos mais grosseiros, aos mais insultuosos, eu digo o mesmo: «Faço-lhes a justiça de pensar que a minha resposta os leve a reflectir um pouco sobre a sua atitude. Ao verem que alguém lhes pode responder civilizadamente a um insulto, isso constitua para eles uma lição». Acredito nisso – e foi por isso que a todos respondi um a um.

Uma reflexão, para finalizar.

Na nossa Civilização, a palavra ‘casamento’ tinha um significado preciso. Por que se insistiu em estendê-la a outro tipo de relações? Eu digo: por razões ideológicas. Exactamente para significar que as uniões homossexuais são exactamente iguais às uniões heterossexuais. Só que eu acho que não são. Que são diferentes – e portanto não deveriam usar a mesma palavra.

Ora, se os gays tiveram o direito de defender o seu ponto de vista, eu não terei o direito de discordar? Ou a lei que legalizou os casamentos gay ilegalizou simultaneamente as opiniões contrárias?"

02 setembro 2011

espécie espessa, de espessura variável, de esperanças espelhadas na espera de quem, expedito, aguarda expectante a experimental expressão do amor, assim, expresso em especial espalhafato interior.

Alergia pós-moderna.


Mais um sinal de uma corrente de pensamento que agora anda na "moda". É uma espécie de alergia pós-moderna à existência de religião. A de uns porque são fanáticos e terroristas (mesmo quando não o são), a de outros porque são o establishment podre (mesmo nos países em que são minorias perseguidas), outros porque são sectários, opressores e ricos (mesmo quando são pobres, oprimidos ou abertos). As únicas "religiões" aceites são a versão ocidental de um budismo light e "orgânico", a Ciência e tudo o que o "caldo" New-Age tiver para dar - especialmente o que fôr apadrinhado por uma celebridade. 

O que fizeram na Austrália é igual ao que fizeram com a constituição europeia, ao não assumir as raízes cristãs da história europeia. Qualquer dia Jerusalém também vai ter de ser "a neutral non-religious city" e em vez de se chamar Cidade Santa passa a chamar-se Cidade Plural...

Negar ou reescrever a história por causa de agendas políticas, é mais ou menos o que o Hitler e tantos outros ditadores totalitários queriam fazer...!