28 novembro 2012

das coisas Catalãs.

no Declínio e Queda.


"A leitura mais frequente dos resultados das eleições na Catalunha, entre nós, é a de que ganhou a frente soberanista ou independentista. Somando os votos da CiU, que ganhou (embora passando de 62 para 50 deputados), da ERC, que ficou em segundo lugar (embora passando de 10 para 21 deputados), e de outros pequenos partidos pró-independência, temos cerca de dois terços dos 135 deputados catalães a favor de uma separação de Espanha.
É verdade, mas há um pormenor relevante de que ninguém fala. Enquanto o Partido Socialista Catalão, tradicionalmente autonomista, desceu de 28 para 20 deputados, o PP ganhou um deputado e, mais do que isso, reforçou muito a sua votação, passando de 387 mil votos em 2010 para 471 mil. Para efeitos de comparação, a ERC teve agora 496 mil votos (219 mil em 2010) e a CiU 1 milhão e 100 mil (1 milhão e 200 mil em 2010). Ou seja, o voto conservador fugiu da CiU para o PP, enquanto a ERC cresceu à custa dos socialistas.
O que representa um aumento da clivagem entre os que querem a independência e os que querem manter as coisas como estão. Ora, um dos factores de sucesso do nacionalismo catalão era o seu discurso moderado e gradualista, garantia de apoio do centro político. Apesar do forte movimento operário e de alguns episódios pouco edificantes na Guerra Civil, repartidos entre anarquistas e vermelhos – a vandalização da catedral da Sagrada Família, por exemplo-, a autonomia catalã foi sempre uma exigência burguesa, não violenta e cosmopolita. Ao contrário do activismo basco, paradoxalmente mais ligado aos extremos (de direita no século XIX, com Sabino Aranda e outros nostálgicos de um Euskadi medieval não contaminado por mouros e castelhanos; de esquerda no século XX, com os republicanos, os católicos progressistas e os marxistas da ETA). Ter uma literatura escrita com quase mil anos também ajudava, além de velhas relações com o Sul de França e as ilhas mediterrânicas (outra diferença em relação aos Bascos, com uma identidade regional mais distinta, mas também mais isolada, ou mais distinta porque mais isolada).
Talvez a clivagem seja apenas conjuntural. Talvez o fenómeno ERC seja apenas como o Syriza na Grécia: um produto da crise. Mas, se não for, a sociedade catalã sai mais dividida da aventura, com um bloco de meio milhão de eleitores a votar no PP, em princípio espanholista, outro meio milhão a votar na esquerda radical, em princípio independentista, e o milhão da CiU no meio, em equilíbrio difícil. A ex-Jugoslávia não está assim tão longe."

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