por Henrique Raposo
no expresso, 22.02.2013
Quando surge na agenda um tema relacionado com a Igreja, o engraçadismo anti-cristão vem logo ao de cima e acaba por dominar a atmosfera das conversas e debates. Estou a falar daquele gozo permanente em relação ao Papa e cristianismo, em relação à própria fé. Não, não estou a falar de críticas e perguntas sérias e sólidas. Isso seria outra conversa, conversa com nível. Estou a falar do gozo fácil, do nariz empinado que nem sequer admite diálogo com o crente, estou a falar da piadola que se julga moderna. Mas será assim tão moderna? Em 1843, Kierkegaard iniciou o seu Temor e Tremor com esta irónica arrancada: "ninguém hoje se detém na fé (...) passarei, sem dúvida, por néscio se me ocorrer perguntar para onde por tal rumo se caminha". Ou seja, o nosso ar do tempo é uma velharia com, pelo menos, 170 anos. A crença na transcendência é um saco de boxe para a gozação cínica há mais de século e meio.
Moral da história? Os nossos modernaços, que gostam de transformar a fé num sinónimo de idiotice, não têm nada de moderno. São sucateiros de um ferro-velho mental.
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