10 janeiro 2017

Dos símbolos e protocolos - ideias soltas e provavelmente irrelevantes.

Este não é um post sobre Mário Soares.

O país parou para o funeral de Mário Soares.
Manda a lei, e bem, que os antigos presidentes da república tenham direito a um funeral de estado.
Entram em cena o protocolo e os símbolos e começa o meu desconforto com a palidez com que o nosso estado se apresenta e se conduz a si próprio nestas funções.

Uma função destas pede uma presença assumidamente e abundantemente cerimonial e simbólica por significar, em teoria, a vontade de uma nação que quer honrar determinada personalidade.

Um funeral de estado pressupõem uma parada, uma marcha, uma viagem, a última, do homenageado, nos braços da Nação que, se espera, gastou a vida a servir. Essa marcha está a cargo das Forças Armadas que são o repositório dos valores e garante da própria existência da Nação, personificando-a para lá das facções políticas e demais "tribos indígenas". Nesse sentido, são o símbolo mais universal e inclusivo de todos os portugueses. É por isso que a urna é transportada num armão militar, que integrava em tempos idos as baterias de artilharia. Não há transporte mais honroso para alguém que supostamente se deu aos seus com o seu serviço.

Até aqui tudo bem. Mas depois o que vemos ser feito é um cortejo pífio, com uns batedores, um carro que tudo indica nada ter a ver com os usados nas baterias de artilharia, uma escolta de cavalaria que vai longe do escoltado, nenhuma infantaria, os orgãos do estado enfiados em carros, se é que iam integrados no cortejo e a tropa com as suas fardas "racionais" em vez de usar fardas de gala ou recuperar uniformes mais simbólicos e afirmativos.

Ora eu acho que o cortejo de um funeral de estado devia ser uma alegoria, um quadro vivo da nação a caminho com o herói para nós, o povo, podermos ver, para nos sentirmos "portugueses", juntos, acima das barricadas, a honrá-lo, a despedirmo-nos dele. Devíamos ver uma função que nos fizesse sentir essa pertença à comunidade que se junta e convoca os seus símbolos nacionais para dizer adeus e obrigado a quem partiu.

Para ajudar à festa, nos restantes momentos de este funeral de estado os símbolos nacionais aparecem errados com os castelos da bandeira nacional abertos e não fechados - vá lá que não eram pagodes chineses. Já os do regime aparecem em lugar de destaque à cabeceira do defunto. É verdade que tenho pouco saco para jacobinices mas, não percebo porque é que continuamos a ter de reafirmar o regime em vez de simbolizar a Pátria. Somos portugueses primeiro, não somos da república portuguesa, ou, republicanos portugueses.

Bem sei que o ar do tempo não está para simbolismos. A tropa, a pátria, a bandeira são para manusear com cuidado senão ainda te chamam facho. Eu sou um romântico. Mas será que alguém pode pôr uma dose, larga, de brio, cerimonial e orgulho nas nossas funções oficiais? Será pedir muito?

Grato.
Vosso,

o senhor do tamuitabom.



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