21 julho 2015

Ser Mecenas.

António Medeiros e Almeida

"Desde os meus vinte anos, isto é, desde 1915, comecei a interessar-me por antiguidades, que passeie a adquirir a partir dos meus 30 anos e quando a minhas posses o permitiam.



Esse interesse foi-se desenvolvendo com intensidade e a pouco e pouco fui coleccionando peças raras de valor artístico e histórico como móveis, tapetes, lustres, loiças, bibelots, leques, (...), jóias, livros, cristais, azulejos, (...), etc.

À medida que o tempo ia correndo, tornei-me mais exigente e por isso fui pondo de parte determinadas peças e substituindo-as por outras mais valiosas. Assim, a selecção tem-se mantido cada vez mais rigorosa.

Algumas dessas antiguidades foram adquiridas com certa dificuldade, umas vezes por os seus donos não quererem desfazer-se delas, outras por os seus preços estarem fora do meu alcance. Casos houve em que, para as adquirir, tive de esperar anos e outros em que, para as observar e discutir a compra, obrigado fui a deslocar-me por esse mundo fora. Mas o facto é que cada uma dessas peças, reunidas ao longo de 50 anos, faz hoje parte do meu ser e reflete o meu gosto. Por isso, sinto-me chocado quando alguém me sugere a vende de uma ou mais peças para resolver a minha actual situação financeira, que é difícil, visto ter entregue à Fundação que criei, todos os meus haveres e do pouco que me resta, parte estar nacionalizada ou comprometida para integrar a Fundação.

Na eventualidade de aumentarem essas dificuldades financeiras, preferirei, se a tanto as circunstâncias me levarem, recorrer à mendicidade, em vez de me desfazer de qualquer uma das peças que com tanto carinho e amor coleccionei para as deixar ao meu país. É possível que, por isso, me apelidem de tolo.

Serão diferenças de sensibilidade."


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