"O Miguelismo é, pelo menos nos seus doutrinadores, completamente avesso à tirania. Nunca toma o Direito por criador de justiça, mas simplesmente por expressão dela. É a justiça que deve determinar o poder, e não o poder a determinar a justiça, como fazem os tiranos. Este assunto é, também, tratado sobremaneira por outro conhecido Miguelista. Acúrsio das Neves, reconhecido economista e Historiador Português, bem avisa no Despertador de Povos e Soberanos: facilmente um tirano se aproveita da ausência de poder. Acúrsio di-lo a respeito de Napoleão e da Revolução Francesa; a igualitarização do poder, a união de todas as esferas políticas sob a jurisdição de um único voto, criam facilmente um tirano. Ou, como acontece modernamente, subsistem uma série de elementos não democráticos – a justiça e os tribunais, por exemplo – ou todo ele se centraliza num único Homem. Napoleão criava a justiça, a Religião e a Nobreza; contrariamente ao Estado limitado por Deus, pela Moral e pelo Direito, Napoleão era apenas legitimado pelo consentimento popular. Era este o grande medo de José Acúrsio das Neves, que já Agostinho de Macedo expressava a respeito da filosofia: por força de se libertarem das autoridades, os Homens correm o perigo de criarem outras mais apertadas e menos legítimas. O tradicionalismo português pode até não ser original; mas para quem se preocupa mais com a Verdade e com o Bem, não há-de ser esse o maior dos problemas."
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