19 janeiro 2013

dos mais ou menos gramas do sr. Eni.

De entre a multiplicidade de ferramentas e modelos de auto-conhecimento, mais ou menos sérios e mais ou menos esotéricos, existe um chamado Eneagrama cujo valor está em larga medida condicionado pelas qualidades, seriedade e honestidade de quem lidera os cursos. Não sendo nem querendo ser um fim em si mesmo que tudo explica e resolve, da minha experiência indirecta de amigos e amigas que frequentaram os cursos dados pela Companhia de Jesus, só posso dizer que o Eneagrama dos Jesuítas é a todos os níveis um método valioso e especialmente sério, válido e meritório para o auto-conhecimento.
O sr Eni, portanto, tem gramas suficientes para ser um sistema de peso.

Consiste então o Eneagrama em atribuir, depois um processo de análise que se quer maduro, rezado, honesto e cuidado, um determinado algarismo à pessoa, significando assim que essa pessoa possui um determinado conjunto de características boas e más que a levam a funcionar e interagir com a realidade e os outros de acordo a um determinado padrão. Esse algarismo, de 1 a 9, tem depois "asas" que são outros algarismos para onde a pessoa tende e que a integram ou desintegram. Quer isto dizer que em lado nenhum se diz no Eneagrama que a pessoa e a sua personalidade passam a estar confinadas ao catálogo de características atribuídas a cada algarismo e que todas as pessoas desse algarismo são iguais. Coisa fundamental deste método é, aliás, assumir-se como ferramenta que fornece boas pistas, sólidas e fundamentadas, para desmontar quem somos e como somos com o mundo e os outros tendo como objectivo e rumo, chegar a Cristo, ou seja, ser santo, ou seja, não desistir, ou seja, amar muito e cada vez mais.

Ora, se o Eneagrama não é mais que uma ferramenta e um tesouro que nos deveria despertar para a vida e pôr a caminho, não consigo, por mais que tente, compreender aqueles que passam a interpretar os outros e as suas reacções a partir de um algoritmo de algarismos reduzindo o virtuoso sistema a um catálogo de rótulos, prontamente atribuídos ao interpretado. Como se o suposto fosse ficar confortavelmente a brincar a esse jogo de pistas de quem é que número.

Tal é o sintoma manifesto nas convivências que tantas vezes parece existir uma espécie de subtexto interpretativo que filtra todas as interacções. Uma conversa dentro da conversa que, sendo inútil, nefasta se torna por afastar os que não fizeram de virem a saber afinal, de 1 a 9, em qual encaixam.

Por mais que reconheçam o valor do método, a possibilidade de se verem apanhados no mesmo vício de advinhar o número a colar na testa do outro rapidamente esvazia de massa crítica o propósito de conhecer os gramas do sr. Eni.


1 comentário:

Nuno Alarcão disse...

Muito bem, meu caro.
Gostei muito.
Um abraço grande,
Nuno