04 dezembro 2012

em frente ao penedo verde, cinco milhas ao largo.


Venho aqui à trinta anos. Aqui neste lugar, em frente ao penedo verde, cinco milhas ao largo. Pesco o meu peixe. Trago o que o mar me deixa trazer. Depois acendo o cachimbo e espero. É assim há trinta anos.
Espero que ele venha enquanto dura o tabaco. Depois volto ao porto. Disseram-me que ele andava com pescadores e saía com eles de madrugada. Que nada lhe era impossível e  que éramos bem-aventurados se fizéssemos como ele. E por isso há trinta anos que tento fazer como ele e venho aqui esperar o tempo de um cachimbo. Não é fácil mas, também me disseram que um santo é um pecador que não desiste e que os santos são os amigos dele. Eu quero ser amigo dele. Não sei o que é um pecador mas é parecido com pescador, por isso, devo caber nesse grupo.
Há trinta anos que espero por ele para lhe pedir que me devolva o meu amor. Ou então que me leve com ele. Não me importo. Há trinta anos que espero o tempo de um cachimbo aqui, em frente ao penedo verde, cinco milhas ao largo. Talvez hoje o horizonte se ponha estrelado.

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