@essejota.net
Sinto um espião no jardim e sei que ele te vai dizer que de herói tenho pouco. Por isso
o mensageiro agora está junto às margaridas para eu continuar a ser o melhor aos teus
olhos.
Não me posso mostrar inteiro porque o todo é imperfeito e nesse pequeno mora o
frágil e o risco, e perder-te eu não arrisco. Dá pelo nome de Tallest Man on Earth e
fala-nos disto na história de um jardineiro que bem podia ser eu, ou, talvez tu.
Estranha tensão, esta, entre o dar-se e o medo de se perder. É esquisito e tão corrente
o medo de deixar entrar na nossa inteireza o desalinho que não controlamos. Que
medo é este de cair dos olhos do outro?
Faz lembrar a história do gigante que morava num lindo jardim, fechado por muros
altos e intransponíveis, não fosse alguém estragar o retrato. Um dia vieram as
crianças - são sempre as crianças – que descobriram uma racha no muro, entraram de
rompante e deram vida às flores e às árvores e às coisas.
O gigante não gostou e ralhou muito com aqueles meninos. A vida traz reboliço e
confusão e o gigante não podia arriscar deixar de o ser. Claro que no fim os pequenos
do grande fizeram maior porque de ser gigante, o gigante desistiu. Os muros foram
derrubados, os meninos brincaram no jardim e todos, perfeitas obras por terminar,
viveram felizes para sempre. No dom de nós está o resgate e no desalinho a plenitude.
Mas comigo e se calhar contigo, não é assim. Do frágil incompleto fujo
completamente. Misteriosa coisa de dentro esta, de que fugimos cá por fora,
entretanto.
Sou gigante e jardineiro, e que jardim este que tenho feito. O maior, por ter medo de
ser o pequeno.
Sou homem, planto flores e vou-te mostrando o meu jardim. Moro nos teus olhos.
Estou a caminho.
E tu?
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