26 março 2011

Caritas

Pira de J.Engling - Cambrai
"Love, it will not betray you,
dismay or enslave you,
it will set you Free!
be more like the Man you were made to be.

there is a design,
an alignment to cry, 
in my heart to see,
the beauty of Love as it was made to be."

Sigh no more - Mumford & Sons

24 março 2011

João Valentim

Chamada: Os senhores que se seguem!

Como ouvi ontem alguém dizer, numa democracia mediática como a nossa, as características que jogam a favor de um político são a imagem, a resistência física e a resistência psicológica.

Tendo isto em conta, só por acaso é que nos calha na rifa um PM competente...
Sócrates não é o caso.

Vamos ouvindo por aí: "Agora é que vão ser elas!".
Pois vão. Mas, se tudo correr bem, vão ser elas sem ele!
Além disso, o que Sócrates foi fazer a Bruxelas foi, essencialmente, confirmar e pedir a intervenção externa.

Digo "se tudo correr bem" porque não é nada líquido que Sócrates não concorra novamente. E se o PSD ganhar, coligado ou não, poderá ter de negociar com um PS encabeçado pelo senhor "sempre-em-pé".

E é precisamente isso que nenhum  dos partidos aceita. É, talvez, o único ponto em que estão de acordo. Negociar com o PS com vista a uma unidade nacional que traga mais estabilidade: sim. Com Sócrates? Um redondo não.

Se Sócrates persistir, e é razoável que persista, também não quererá aceitar negociações com ninguém.
Não estamos, aliás, habituados a uma tão persistente voracidade de poder como a de Sócrates.
Até consegue fazer abrir secretarias ao domingo!
É razoável pensar que vamos ver o Sr. Sócrates por aí durante mais uns tempos.

Tudo isto num clima parlamentar e político altamente emocional, inflamado e onde a crispação é um constante arrepio.
Prova disso, segundo ouvi ontem alguém contar, foram as reacções em plena AR ao discurso de tomada de posse do PR: "Tenha vergonha!"; "Descaramento"; "Vamos mas é embora!" dito por uma deputada do PS levantando-se para sair; pancadas nas mesas que obrigaram o PR a ter de levantar a voz...

A situação é, de facto, muito grave.
E o mais provável é que vamos desembocar numa campanha eleitoral baseada em recriminações e vitimizações. E no meio do jogo político, perde-se o país, o interesse nacional e o sentido de Estado.
Coisas que o Sr. Sócrates dispara da boca para fora sempre que pode mas que, não sabe o que são e contribuiu como ninguém para as destruir.

Vamos lá ver se Passos Coelho não se revela um Sócrates laranja e se Paulo Portas não embadeira em arco, chegando das brumas qual D. Sebastião.

Os restantes farão a tradicional contra-corrente negativa que lhes é tão vital à sobrevivência...

Não percam os próximos episódios, porque nós, que remédio, também não!!!

[som de chamada]: "Senha 415, balcão 7 por favor..."

18 março 2011

Tsar Bomba ou o Inferno na Terra

Detonada a 30 de Outubro de 1961 pela ex-URSS, a Tsar Bomba foi a maior bomba nuclear alguma vez detonada.
O teste ocorreu no arquipélago Novaya Zemlya, em pleno oceano Ártico.

A resultante bola de fogo, com cerca de 8km de diâmetro, foi vista a mais de 1000km. A característica pluma de fumo, o "cogumelo", chegou aos 64km de altitude (quase sete vezes a altura do Monte Evereste) e na base tinha 40km de largura.

A aldeia de Severny, a 55km de distância, foi arrasada. Noutras zonas a centenas de km os edifícios mais frágeis foram derrubados pela onda de choque.

O calor da explosão poderia ter causado queimaduras do 3º grau a 100km de distância.

A onda de choque foi vista no céu a mais de 700km do local da detonação e há registos de janelas rachadas e parcialmente quebradas a 900km de distância e até na Noruega e na Finlândia.

O impacto sísmico da explosão (7,1 na escala de Richter), foi tal que foi possível registá-lo até na terceira volta que deu ao planeta.
A Tsar Bomba era um assustador colosso de 50 Mega-toneladas, equivalente a um cubo de TNT de 312m de aresta, aproximadamente da altura da Torre Eiffel.

Embora o seu tamanho excluísse o uso militar, é assombroso o potencial destrutivo que um dia foi posto à solta pela primeira vez no deserto americano e, uns meses depois, sobre Hiroshima e Nagasaki.
 
Para dar uma ideia da escala, basta ver a proporção da "potência da explosão" entre a Fat Man que explodiu em Nagasaki e a Tsar Bomba.
 
"Now I am become Death, the destroyer of worlds"
J. Robert Oppenheimer
 

10 março 2011

Trinta anos e três covers. Há melodias que são para sempre...

1989

2011

E pelo que se conseguiu apurar, a versão de 1989 é também uma "cover" da canção "Chorando se foi" de Márcia Ferreira, que, advinhem só, também era uma "cover" da original (será??) de 1981 "Llorando se fue" (tava-se a ver), dos bolivianos Los Kjarkas.

Resta dizer que os Los Kjarkas ainda existem e que o antigo membro Edwin Castellanos foi eleito presidente da Câmara de Cochabamba em 2010.

Como eu gosto da Wikipedia...

01 março 2011

"Bastas, Bestas e Bastinhas"

No próximo dia 12, ao que tudo indica, teremos uma manifestação em Lisboa que gritará em uníssono "BASTA!!!".
Mas esse uníssono esconde uma multiplicidade de posturas e razões quase tão grande como o número de manifestantes que se espera que apareçam. O protesto servirá, provavelmente, para trazer estes temas para a ordem do dia, o que é fundamental.

Porém, mais que isso (e por isso menos), vai ser um campo fértil para a demagogia cega e gratuita. É esse o tom que encontro na maioria dos representantes de associações académicas e juvenis que tenho ouvido.

Duvido que muitos saibam claramente porque é que vão. Ou que outros tantos tenham pensado a fundo nisso.

Na marcha do "Basta de andar à rasca!", vamos ouvir os BASTAS: os que denunciam os problemas e as causas, apresentam soluções e propõem-se pô-las em prática.

Na marcha do "Basta de andar à rasca!", vamos ouvir os BESTAS: os que acham que tudo lhes é devido; os que gritam que quem está bem é porque tem cunhas e apelidos; os que exigem que seja a vez deles de terem cunha e estar por dentro.

Na marcha do "Basta de andar à rasca!", vamos ouvir os BASTINHAS: os jograis espalhafatosos e pseudo-anarquistas que gritam basta de tudo e mais alguma coisa; os que usam t-shirts do Che sem saber quem é; os que acham imediatamente que "a culpa é do sistema" e dos "cotas" porque... e lá vai mais uma pedrada (nem sempre do passeio).

Porque me parece que os BASTAS estão nas mãos de hipócritas BESTAS e tontos BASTINHAS, este protesto será um joguete nas mãos de demagogos.

Não contem comigo.

As razões deste problema são muitas.
Para mim, duas das mais importantes e que ontem ouvi tão bem explicadas no Prós-e-Contras:

- Rigidez excessiva do mercado de trabalho;
- Inexistência de um mercado de arrendamento;

Não é na rua que isto se resolve.

Elogio aos Gagos.

João Pereira Coutinho
2011-02-21 Folha.com
http://www.folha.uol.com.br/

"Certo dia fiz uma viagem de trem entre Porto e Lisboa com Marc Shell. O ilustre Marc Shell é um escritor americano, professor em Harvard, e a conversa, durante três horas, é daquelas que dificilmente se esquecem. Falou-se de tudo: da vida e da morte. E de literatura, que faz a soma de ambas.
Um traço do cavalheiro, porém, causava-me estranheza: a forma como falava. As frases eram curtas. Pausadas. Como se houvesse ali um excesso de afetação ou vaidade.

Dias depois, ao folhear a revista "Spectator", encontrei a chave para o mistério: uma resenha ao último livro de Shell. O livro intitula-se "Stutter" e é uma mistura sagaz de autobiografia e estudo cultural sobre os dramas da gaguez.

Shell era gago. E a forma como falava, longe de ser uma exibição de pedantismo, era um mecanismo de sobrevivência. Cada. Frase. Era dita de um fôlego só. Para não haver derrapagens. Desconfortáveis.
Fiquei a pensar na conversa; a reavivá-la na memória; e apesar de nunca ter gaguejado, pelo menos oralmente (os meus detratores dirão que só gaguejo por escrito), imagino o que deve ser a vida de um gago. Cada frase é uma pequena ilha; e, entre as ilhas, um oceano imenso que é preciso cruzar sem afogamentos.

Lembrei-me de Shell e das suas ilhas quando assistia ao discurso do "Discurso do Rei": falo da alocução final e radiofônica em que George 6º, recriado com competência por Colin Firth, precisa de se dirigir à nação no momento em que a Inglaterra declarara guerra à Alemanha nazista. E, nas folhas do discurso, pequenos traços a marcar o ritmo da sinfonia. Como um compasso. Então George 6º/Colin Firth começa. Uma frase. Outra. Mais outra. E, no rosto dele, um esforço homérico. Como se discursar fosse uma maratona olímpica de desfecho incerto.

E talvez fosse. Em 1939, já não bastava a um rei não cair do cavalo, como lhe diz o pai, George 5º (o notável Michael Gambon). Era preciso que a voz de um rei fosse escutada pelo seu povo, sobretudo quando, do outro lado do Canal da Mancha, os totalitarismos que ensombravam a Europa também eram totalitarismos de agressividade verbal.

Mussolini ou Hitler discursavam com a cadência de metralhadoras. Era preciso responder a tamanhas baterias orais com, pelo menos, alguns disparos de canhão. Mas como, se o rei era gago? Mas como, se o premiê também?
Churchill tratou do assunto com a cadência teatral que o imortalizou - embora, como explica Christopher Hitchens em ensaio sobre o velho Winston, nem sempre a voz de Churchill era a voz de Churchill. Por vezes, era o ator Norman Shelley quem gravava as intervenções radiofônicas em seu nome, mimetizando a voz na perfeição.

E, em relação ao rei, a angústia foi aliviada com um terapeuta. Que o ensinou a pular de ilha em ilha sem cair no mar.

"O Discurso do Rei" não é um grande filme. Mas é, sobretudo, um filme exemplar sobre a mais rara das virtudes: a virtude da resiliência. Esse sentimento moral profundo de que existem deveres que não apenas são superiores a nós como exigem o melhor de nós."